sábado, 18 de abril de 2009

Entrevista com Les Pattinson


Texto: Simon Allum
Fotos: cortesia de Les Pattinson, Phil Nicholls e Will Seargent
Tradução: Verena Kewitz
Fonte original: http://www.incendiarymag.com/modules.php?name=News&file=article&sid=887
Ano da Entrevista: 2006



(cortesia Phill Nicholls)

O Echo & The Bunnymen levou o rock a lugares estranhos nos anos 80, lançando discos cheios de clima e mistério e tocando em lugares esquisitos e exóticos, da Ilha de Skye ao Rio de Janeiro. Seu forte comprometimento e integridade musical garantiram-lhes sucesso à sua maneira e devotados seguidores cult.
Em 1988, após o lançamento de seu álbum mais vendido, conhecido como “The grey album” - referente não apenas à capa, mas também, como consideram alguns, ao som em si da música - o cantor Ian McCulloch deixou o grupo para se dedicar à carreira solo. O restante dos Bunnymen continuou sem ele, mas após a trágica morte do baterista Pete de Freitas e um sexto álbum criticamente desprezado com Noel Burke nos vocais, o nome Echo & The Bunnymen foi enterrado no início de 1993.
Alguns anos depois, Will, Les e Mac se reuniram, e em 1997 aconteceu o magnífico retorno do Echo & The Bunnymen com o excelente Evergreen e o hit Top 10 Nothing Lasts Forever. Entretanto, durante a gravação do álbum seguinte (What Are You Going to do With Your Life?, de 1999), o baixista Les Pattinson achou que devia sair da banda. Em março de 2006, Incendiary falou com Les – que voltou à sua paixão de longa data por construção de barcos – sobre os altos e baixos com os Bunnymen, a importância do mistério e a forma mais fácil de se esvaziar uma pista em Cuba...

Portanto, em boa tradição Bunnyana, “vai lá, conte-nos tudo, tio Les”

IN: Começando bem do começo, antes dos Bunnymen, de onde veio a idéia de “Jeff Lovestone”?
LP: Do meu coração! Tinha um cara chamado Geoff Love, que fazia coisas na TV com Max Bygraves. O lance era que tudo vinha dos tempos do Eric´s, a lendária casa noturna em Liverpool. Todo mundo chegava com nomes de bandas. Era todo o mistério... as pessoas eram dessas bandas, e se elas dessem esse primeiro passo e fizessem uma música, seria ótimo, mas o lance todo com isso era que a gente tinha de ter esses grandes nomes para começar, para criar esse interesse, e se você conseguisse continuar isso com a música, seria brilhante. Um dos nomes que eu tinha era “The Jeffs”, pois um dos meus amigos mais antigos na escola chamava-se Jeff; veio de uma daquelas conversas de bêbados que tínhamos no banheiro feminino no Eric´s, eu, Will e Mac...

IN: No banheiro feminino? Onde havia o único espelho?
LP: É! Era assim: “Uau, tenho uma banda, vamos tocar semana que vem”, e eles perguntavam: “Como chama?” sabe – e eu respondia “The Jeffs”, e eles “Legal, então qual vai ser seu nome Les?”, e eu disse “Jeff, claro, e o segundo nome Lovestone”. Então, tudo veio dali, sabe, era isso. Ele está lá ainda, em algum lugar... Progrediu dos Jeffs para The Love Pastels. Era estranho porque os Bunnymen e os Teardrops ensaiavam juntos, tínhamos um espaço de ensaio na casa de um cara chamado Yorkie, que é o baixista do Space, ou era, então a gente falava com a mãe dele, e era muito engraçado, assim que a gente aumentava o volume, a mãe dele batia lá de baixo gritando: “Abaixa essa porra dessa música!”. Era o clima mais recriminador que poderíamos ter.
Um dia Mac não estava lá, e eu acho que o Will não apareceu, éramos só eu, Julian Cope e Mick Flinkler acho, e começamos a ensaiar, e saíam essas músicas psicodélicas - Apples from France, The Balloon Man will Know, Mr Tunbridge Wells, tínhamos um álbum completo que saiu em uma hora enquanto esperávamos pelo Mac, que sempre atrasava mais de uma hora de qualquer forma. Era legal!
(Tenho de dizer que eu gostava tanto da idéia dos Jeffs que eu pedi que meu nome numa camiseta de despedida de solteiro cinco anos atrás fosse Jeff Lovestone. Eu até tenho a camiseta pra provar! – Nota do editor)


O lendário Yorkie no lendário porão (cortesia de Les Pattinson)

IN: Você sempre se deu bem com o Julian [Cope]? Parece que o Mac brigava sempre com ele no passado?
LP: É... Mac é sempre instável com as pessoas. Às vezes ele se dá bem com elas, às vezes não. Ele tem um grande atrito, daí ele faz as pazes e depois são grandes amigos.
Eu acho que a rivalidade chegou a tal ponto, que ele tinha de se separar daquela cena de Liverpool. Não exatamente da cena de Liverpool, mas... sei lá... Julian era um alvo fácil, não era?, pois ele não era de Liverpool, mas eles [Teardrop Explodes] eram uma banda de Liverpool, aí o Julian fazia as coisas do seu jeito e se tornou um alvo fácil, ainda que fosse um alvo móvel, sabe. Sei lá.. éramos grandes amigos num momento, apesar que quando você olha para o lance todo, fomos provavelmente amigos por apenas duas semanas na verdade.

IN: Você conhecia o Will Sergeant da escola?
LP: Sim, eu estava na mesma classe que ele, e ele era o Sr. Expert em Música! Era Status Quo... e depois da fase psicodélica, era “Piledriver” , sabe aquele disco, e outras coisas estranhas. Basicamente eu acho que ele ainda não tinha achado sua identidade musical, mas era provavelmente melhor que a minha! Eu estava na fase do David Dundas de “Pull on my blue jeans” e toda aquela merda, sabe... Devo admitir que eu gostava mesmo do David Bowie, mas todo mundo na escola gostava.

IN: O Bowie foi sua primeira grande influência musical?
LP: Acho que sim. Tinha um monte de coisa que meu pai comprava. Eu adorava Andy Williams e tal, ainda que eu nunca admitisse isso na época, e também Bacharach e Tony Hatch, Downtown, coisas do tipo. Eu ainda tenho nostalgia de coisas como essas. Eu tive uma infância ótima, e isso fez parte dela, esse tipo de música.

IN: Como era estar num estúdio fazendo seu disco de estréia (Crocodiles)? Era divertido ou havia muita pressão?
LP: Eu me sentia culpado. Era divertido e muito fácil, porque nenhum de nós sabia o que estava tocando, mas todos tínhamos esse entusiasmo ambicioso do quanto queríamos fazer barulho e fazer músicas, e funcionou. Me senti culpado porque tinha vindo de uma classe trabalhadora, e se eu quisesse fazer mais grana, fazia hora extra e tudo era relativo. Daí de repente você se vê fazendo algo de que realmente gosta e que te fazia se sentir natural, só fazendo barulho e sendo pago por uma gravadora e não tinha mais volta. Se fizesse errado e não vendesse bem, você não tinha que devolver a grana, era estranho isso. A gente tava ali sentado, a maioria das músicas eram feitas numa tirada só, eu e Pete ficávamos lá, e em alguns dias tínhamos todas as bases das músicas prontas, daí nas próximas duas semanas e meia ficávamos sentados fazendo nada. Testando nossa moto, pensando 'o que está acontecendo?' sabe...
Se tivesse alguma coisa que não pudéssemos tocar ao vivo, não queríamos que entrasse no disco. Queríamos captar aquele elemento de magia e sugestão, que acho que é o grande lance da música; isso é que a faz boa, sugere coisas que não estão ali. E quando você coloca alguma coisa nela que você acha que escuta, soa merda, sabe, fica demais. Você tem de ter mistério, e lacunas e buracos através das músicas.

IN: Uma vez fiquei sentado tentando aprender a linha de baixo de A Promise e fiquei abismado quando descobri que são só três notas. Soa como se tivesse um monte de coisa nessa música, mas as linhas de baixo e de guitarra são muito simples...
LP: É, é isso o que eu adoro fazer, adoro fazer essas linhas de baixo, que vão e vêm, e a cada três vezes numa volta elas mudam tudo... Mesmo sendo só três notas que todos toquem, eles as tocam em tempos diferentes, e daí de repente você tem uma combinação de 9, 12 etc., sabe... As coisas mais simples, as idéias mais simples são as melhores.

IN: Qual foi sua primeira impressão sobre o Bill Drummond?
LP: Eu não confiava nele! Essa foi minha primeira impressão. Tá aí um cara que tinha se arriscado em direção a Liverpool, e tínhamos conhecido essas pessoas de gravadora e ouvíamos todas essas histórias, víamos os programas clichés de TV sobre como as pessoas tinham sido enganadas, sabe... que tinham escrito grandes músicas, havia muita paranóia. Mas eu gostava dele, realmente gostava dele, era algo estiloso, mas metade de mim queria gostar dele, de suas idéias e do jeito como fazia as coisas, e a outra metade, que todos tinham também, como uma precaução, cuidado – não queríamos perder o controle do que tínhamos, mas não sabíamos o que tínhamos! Éramos ingênuos. Ninguém de nós sabia o que iria acontecer, e aí tinha um cara que nos faria trabalhar. Para ser justo com Bill, com discernimento, ele fez coisas ótimas para nós, mas na época era tipo... ele colocou trompetes – ele ou Dave Balfe – em The Cutter e pensamos “Por que diabos você fez isso?”, sabe...

IN: Você não tinha idéia de que ele tinha feito isso?
LP: Não! Mas sendo justo com ele, ele disse que “é isso, mas se vocês não gostam, eu tiro”. Era uma daquelas coisas que... era estranho, era como alguém tirando uma foto de você e não parecer você, não éramos nós. Mas muitas outras pessoas nas gravadoras diziam “Ah, isso é fantástico, vai ser ótimo, vai ser um grande hit, blá blá blá”, então você não sabia o que pensar. Se você se mantém em seus propósitos, você ganha um pouco de respeito, mas também pode conseguir o oposto, quando as pessoas pensam que somos idiotas porque não conseguimos o melhor som possível.

IN: Balfe queria teclados em Crocodiles também, não queria?
LP: É, ele era como um gato, ele queria mijar em tudo! Não, ele não era tão ruim assim, mas nós... nossa idéia de empresários era diferente, tipo... alguém conseguindo uma namorada quando jovem, você pensa, é legal, por enquanto ela serve até eu conseguir conhecer alguém melhor, sabe? O lance sobre o Bill Drummond é, olhando pra trás, ele era lendário, era genial, mas levei um tempo [para gostar dele]. Acho que o Will o conhecia melhor e confiava mais nele; eu não. Mas aos poucos fui confiando nele; talvez aquilo fosse parte de ele saber como eu era e o que eu queria, até onde ele poderia pressionar, e no fim acho que nós nos entendíamos. Ele me respeitava, e nós nos respeitávamos.

IN: Você diria que o Bill contribuiu muito para o status mítico dos Bunnymen?
LP: Eu diria que ele nos ajudou a conquistar isso, acho que todos queríamos isso. Não queríamos ser mais uma banda fazendo turnê, muito pelo contrário. Ele tinha um amigo, Bill Butt, que acrescentou alguma coisa àquele lado mítico, ele nos ajudava a alcançá-lo, sabe. Esses caras eram um pouco mais velhos que nós. Bill Butt, que fazia a iluminação e dirigiu Shine So Hard, entre outras coisas, sabia como fazer as coisas de forma esquisita e ele queria fazer coisas mais vanguardistas, e queríamos ser totalmente vanguardistas, sabe... Eles eram como bons niveladores, pelo fato de dizerem “Vocês não podem fazer aquilo, isso é o melhor que vão conseguir, será esquisito o suficiente!”

IN: Alguns dos primeiros shows pareciam quase Prog , com a iluminação e fumaça...
LP: É... não éramos limitados de forma nenhuma, mas não queríamos perder a compostura, dá-la a pessoas como Dave Balfe para levar embora, pois eles a destroem – o que tínhamos – mas de novo não sabíamos exatamente o que tínhamos. É como o velho cliché sobre as entrevistas dos Bunnymen, tipo o Will e eu dando entrevista, é como uma reação química, quatro pessoas, de quatro origens quase diferentes, eu e Will talvez não, mas definitivamente com quatro diferentes gostos musicais, e eram essas quatro químicas se misturando... não sabíamos o que tínhamos, mas sabíamos como mexê-las.

IN: Tem um poema seu na música Over the Wall. Como isso aconteceu?
LP: Era uma daquelas coisas que fiz, de modo que as pessoas em 20 anos me perguntariam sobre o que era! Não, era diferente cada noite... Era mais um pouco de mistério. Para mim, é uma música muito, muito hipnótica, e eu nunca poderia cantar em cima de uma linha de baixo. Sempre tive bateria e baixo na minha cabeça, então essa foi uma daquelas raras oportunidades em que é só uma coisa melódica, com uma coisa rítmica girando, girando, em que eu de fato pudesse falar por cima e acrescentar algo. Era o Mac fazendo algo mais importante, e eu fazendo esse poema, foi assim que se desenvolveu. Daí fui até o microfone e fiz aquilo. O motivo pelo qual eu tinha um microfone foi que Mac queria que eu fizesse backing vocals, mas eu era um lixo cantando, estava muito ocupado me concentrando no ritmo. Sou daquelas pessoas que, bem – na minha cabeça só tinha as batidas e ritmos, e conversas não entravam. Bem, seria diferente se eu visse uma mulher bonita na minha frente, mas foi isso!

IN: Sobre o que era o poema?
LP: Basicamente sobre quando você é criança e não quer dormir. Era assustador, sabe, o jeito como você vê as coisas nas cortinas, coisas desse tipo, era sobre Sandman, e em vez dele jogando areia nos seus olhos, ele começa a falar com você para que fique cansado, e você entra no mundo dele, era tudo muito bizarro.

IN: Adoraria ler [o poema], você tem isso escrito em algum lugar?
LP: Não! Você vê... mistérios... tá tudo lá... Todo mundo tinha um final diferente cada noite, por isso eu não lembro, mas eu vou dar uma ouvida e filtrar para poder ouvi-lo.

IN: Eu li que você particularmente não gostava de sair em turnê, é verdade?
LP: A gente odiava excursionar e ficar longe de casa, porque era sempre trabalho, e você recebe de fato o pior do negócio sabe? Fora a noite toda, o que era legal, mas ficar em hotéis o tempo todo, a gente odiava isso... Talvez fossem os punks em nós, mas sempre odiamos o estilo de vida rock'n'roll. Você ficava com os roadies que estavam 10 anos desatualizados. Na verdade, eles ainda continuam! Nunca vai mudar, mas odiávamos tudo daquela cena. Tocar ao vivo era maravilhoso, adorava, mas não das outras coisas intermediárias, por isso costumávamos vestir os roadies... sabe, fizemos eles usarem camuflagem e tudo aquilo. Tentávamos mudar tudo sempre que podíamos, mas não gostávamos de excursionar. Tornou-se incrivelmente chato. Estávamos cientes disso, quanto maior o lugar que você toca – legal, mas tinha um equilíbrio entre o quanto você poderia se esforçar para tocar e o quanto aquilo arruinaria sua performance e o tamanho do lugar, sabe. Por isso, estávamos conscientes daquilo e queríamos que cada show fosse especial, verdade. Ficávamos chateados quando era um show merda. Se McCulloch desafinasse, 9 dentre 10 vezes ele percebia, ainda que estivesse bêbado, e ele ficava fingindo e disfarçando: “Uau, isso foi legal, não foi?”, e respondíamos “não, não foi mesmo”. Éramos como um bom time de futebol, queríamos estar no topo, mas com um número mínimo de jogos!

IN: Você pelo menos curtiu conhecer lugares diferentes?
LP: Sim, amamos tudo referente a isso. Na verdade, teve um elogio bem legal... Will estava aqui em casa uns três anos atrás, e eu não o via há uns 2 anos, eu estava perguntando pra ele “E aí, como estão indo as coisas?” e ele disse “Ah, tá tudo bem... ainda sinto falta do meu melhor amigo, quando vamos fazer compras”. Não percebi o que ele tava dizendo até pouco tempo depois, e para o Will dizer algo assim, pois ele não é o tipo de cara sentimental, daí de repente percebi quando ele foi embora que aquilo deve ter sido bem difícil de dizer, sabe. Mas nós costumávamos sair pra fazer compras. Ficávamos entediados nas turnês, então quando estávamos nos EUA comprávamos aqueles carrinhos com controle remoto por uns 300 dólares cada e montávamos no hotel, em vez de sair toda noite. Mac saía toda noite e gastava toda a grana, mas nós ficávamos no quarto do hotel brincando com esses carrinhos! A gente saía e apostava corrida com eles. Acho que era para nos distrair daquele público todo quando tocávamos, passávamos o dia todo preocupados se teríamos pilhas carregadas para os carrinhos, então na passagem de som, que virava sempre uma rotina, a gente fazia corridas com esses carrinhos, e a equipe toda entrava na brincadeira, era muito legal!

IN: Eu li que havia diferenças nos hábitos de turnê entre vocês da banda. Mac descreveu como você saía do palco depois dos shows no Royal Albert Hall (em 1983), e a primeira coisa que Will fazia era comer um sanduíche de bacon . É verdade que vocês levavam coisas como frigideiras nas turnês?
LP: Eu acho que tinha uma frigideira no Albert Hall! Tenho muitas fotos, devo ter umas 10 mil fotos da vida dos Bunnymen, e tem uma ou duas dessas... Acho que a última vez que Will fez isso foi quando estávamos em turnê sem o Mac, no início dos anos 90, e tenho fotos do Will com seu fogão a gás de acampamento, do lado de fora do ônibus em Seattle, colocado sobre um hidrante, fritando tudo na rua, sabe, parece bizarro.


(Will e Les sofrem os sintomas de abstinência pós sanduíche de bacon, depois da insistência de Mac em que a banda tivesse um estilo de vida mais rock'n'roll)

IN: É verdade que você e Will, em particular, dividiam uma atitude ou humor de que Mac nem sempre gostava...
LP: Bem, não sei... quer dizer, Mac era legal. Se você quisesse ficar bêbado e dar risada com pessoas famosas e igualá-las a você, Mac tem o talento pra isso, é inacreditável. Mas toda noite se torna um pouco chato, sabe? Tipo, estávamos indo pra Itália, ou algum outro lugar, a gente ... não via tudo, mas a gente encontrava o maior número possível de garotas locais e entrava no clima. Nos sentíamos privilegiados, não queríamos só pensar “Ah, onde estamos essa noite, mesmo, sabe, Florência, o que estamos fazendo aqui? Não vejo a hora ir pra casa", tipo... entrávamos no clima, sabe, e tentávamos derrotar os cogumelos ímpares quando possível , coisas assim. Era surpreendente, por 20 anos eu tive o privilégio de ter um dos melhores e mais fáceis empregos do mundo, sabe. Era muito legal, com as melhores pessoas. Mas podia ficar muito monótono, embora estivéssemos cientes disso e não quiséssemos que fosse assim; sabíamos que era especial e queríamos fazer melhor.

IN: Você falava com Pete quando ele ficou nos EUA?
LP: Sim, no começo, quando ele foi pra lá, ele parecia lúcido às vezes. Daí quando eu tinha acabado de ter a minha filha, eu estava na casa da minha sogra – ex-sogra agora – recebi um telefonema do Pete às 3 da manhã, ele queria que eu ligasse para o meu pai para que ele criasse um telefone para falar com alienígenas. Eu dizia, “Pete, volte pra casa, o que você está fazendo?” e tal, mas não tinha como fazê-lo mudar de idéia, ele só dizia “Les, eu tenho uma máquina no meu quarto aqui no hotel, que eu posso ligar a TV, apagar as luzes, ligar o rádio, posso programar meu despertador, tudo com esse negócio aqui, então seu pai que é designer, se eu desse pra ele um telefone, ele poderia criar um aparelho para falar com alienígenas”. Ele falava de maneira séria... Eu me sentia sozinho de alguma forma, talvez porque eu era o mais próximo do Pete na banda, no que diz respeito à música, e ele devia ter ficado com a gente, foi muito ruim.
Ele levou uma comitiva com ele que devia ter cuidado dele e o trazido de volta, sabe... esse cara, que é um baterista numa banda, criou essa outra banda (The Sex Gods), e iria fazer esse filme, e era um grande projeto de arte em que todos estavam envolvidos, todos se afundaram nas drogas e tudo; então provavelmente eles não conseguiam ver isso; talvez fosse mais fácil para eu ver de fora, mas...sabe, se alguém estivesse pagando minhas bebidas a noite toda num bar, daí a pessoa fica no chão, eu a teria ajudado a voltar pra casa, sabe. Era o que eu pensava na época. Como eu digo, todos ficaram absorvidos na coisa toda, e de fora, toda a coisa dos Sex Gods, quando você vê, era fantástica, mas de onde eu estava, era muito ruim, sabe.

IN: Antes de mais nada, por que você acha que ele tinha de ir?
LP: Bem, tinha um tempo... Pete era legal, quer dizer, Will concordava com tudo, a menos que significasse mudar algo que ele tinha escrito sabe, e eu tentava ser muito diplomático; o que acontecia era que, tipo... Mac é como uma criança, e nós sabíamos até onde podíamos pressioná-lo e fazer a idéia parecer dele e fazê-lo gostar; desse jeito seria mais produtivo, sabe, você poderia progredir. Ao passo que, de repente, Pete se virava e dizia “Isso é uma merda!” sabe, “Espera aí, isso é merda”, e daí enquanto tentávamos convencer Mac de alguma idéia, do nada ele diria “Têm razão, isso é uma merda!”, de certa forma era um grande jogo, não exatamente um jogo mental, mas Pete era realista. De repente ele dizia “Não, isso foi longe demais... é lixo”, e nós sempre tentávamos voltar atrás. Em cada música, devia ter algo que valesse a pena salvar, mas o Pete era quem sempre queria começar de novo, sabe, o que era bom, e eu acho que Mac o anulava um pouco, era tudo um jogo de poder, e por bem ou por mal, Mac tinha suas razões e seus meios, mas ele queria não o poder da banda, mas sim ser visto como o líder da melhor banda do mundo; ele não queria ser o chefe, e essa era a diferença.
Eu acho que as coisas às vezes irritavam o Pete, porque ele queria dizer “Olha, isso tá errado”, sabe. Ele teve sua vela apagada uma ou duas vezes. Acho que aquela frustração o levou a ter um pouco de crise. Uma vez estávamos na Holanda – em Utrecht eu acho – e Pete nunca tinha de dar em cima das garotas, sabe, ele era do tipo natural, as garotas vinham até ele, e ele raramente tinha de conversar e acabava ficando com elas, mas dessa vez ele tava bebendo, como todo nós, e ele ficou como um tio escroto que ficava atrás da sua namorada. Foi tão estranho, inconsistente, que achamos que algo estava errado, sabe. Ele se esforçou tanto pra dar em cima da garçonete e levou um fora, ele nunca fazia isso!
Mas ele voltou e mudou mesmo, sabe...
Quer dizer, eu o classificava como um dos melhores bateristas do mundo, facilmente, eu nem me colocaria na mesma legião, ele colocava tanto esforço, e eu tentava fugir disso sempre que podia, e dizia “isso é por sentimento”, sabe. Mas ele era simplesmente brilhante. Ele podia tocar o ritmo mais simples, e seria repleto de paixão e força. Ele me fazia parecer bom, e era fácil de se prender a ele. As pessoas dizem que éramos a melhor seção rítmica, mas devo admitir, acho que 80% era o Pete, ele era maravilhoso.


Pete e Les

IN: Que tipo de música você gosta de ouvir hoje em dia?
LP: Ouço música principalmente no carro. Uma ou duas coisas, o que eu tenho? Algo do Snow Patrol, tenho um álbum do Air, Moon Safari. Só pra relaxar, sabe. Tenho um desses Cd-players com 6 cds. Eu geralmente ouço muita coisa no rádio. Eu dirigia muito à noite e adorava o Blue Room na Radio 1, ... é que eu precisava de trabalho uns anos atrás, então comecei a dirigir caminhão na Escócia, e eu costumava sair à noite, e ouvia esse programa. Eu ia dirigindo pelas montanhas escocesas, e considerando que era Radio 1, a música era qualquer coisa desde Frank Sinatra até Glen Campbell, Wichita Linesman, sabe, e eu ficava escutando, aumentava o volume e ficava dirigindo enquanto o sol nascia, era uma música para te manter em movimento, sabe, era fantástico.

IN: Qual disco dos Bunnymen você diria que é seu favorito?
LP: Ocean Rain. Por causa da forma como gravamos e tudo. Foi em Paris, e usamos esse estúdio de música clássica, todos essas superestrelas francesas gravavam ali, por causa do som do vocal, essa foi a razão principal. Mac convenceu a gravadora a gravarmos ali, sabe “Precisamos de um lugar especial... um lugar em que possamos captar o som do vocal”, sabe... “Todo aquele romantismo na minha voz”. Então acabamos indo lá e gravando as melhores faixas que já tínhamos feito em três semanas, mas ele não conseguiu colocar os vocais e acabou gravando em Kirby em Liverpool! Foi meio irônico, mas é brilhante. Mas todas as cordas, sabe... e tudo, foi muito legal. Eu diria que aquele foi um dos melhores momentos que tivemos. Foi estranho, porque nos colocaram nesse país estrangeiro, e o engenheiro nem falava inglês, daí tínhamos de explicar pra ele os sons que queríamos com barulhos. Foi o primeiro que nós mesmos produzimos, e isso foi ótimo, pois fizemos do jeito que queríamos.
Eu e o Will pegávamos nossas bicicletas também e andávamos por Paris, sabe, era ótimo. Fizemos muitas gravações em Bruxelas também, Todo mundo diz que a Bélgica é um país chato, mas é fantástico.

IN: Bruxelas é um dos meus lugares favoritos...
LP: É, foi o primeiro país estrangeiro em que tocamos. Tocamos no Paly K e íamos a essas casas noturnas depois, elas ficavam abertas até 6 da manhã, sabe, não podíamos acreditar, pois na Inglaterra fechavam a uma da manhã, no máximo. Era fantástico!

IN: Se Mac não tivesse deixado a banda para seguir carreira solo em 1988, você acha que o próximo álbum teria soado como o Reverberation ou teria seguido o trajeto do “Amiguinho da América” - o Grey Album?
LP: É difícil dizer... naquela época todos estávamos adquirindo computadores. Ataris, com Base Q, tudo aquilo estava evoluindo, e para ser justo, acho que musicalmente, quando você ouve Reverberation, alguns dos sons e músicas ali são ótimos. Gostamos de Noel Burke como pessoa, mas ele não emplacou como um substituto de Ian. Acho que nunca poderíamos ter uma substituição, sabe, mas para ser justo com o cara, ele fez o seu melhor.

IN: Para mim, Reverberation é um álbum incrivelmente subestimado. Faltavam os vocais, mas a música é brilhante...
LP: É, se você imaginar Mac cantando aquelas músicas, e com as letras dele, acho que teria sido fantástico.



IN: Você pensaria em se juntar aos Bunnymen de novo?
LP: Não! Não... O motivo todo porque eu quis ser um músico e estar numa banda – meu conceito – foi que havia muita gente velha fazendo isso. Will tocava os discos do Doors para mim e me mostrava fotos do Jim Morrison, todos gordos e de barba, e eu pensava “Nem importa a música, veja a imagem!” Não estou dizendo que sou perfeccionista e que tudo tem de estar certo, mas aquela coisa punk estava acontecendo, e quanto mais jovem você fosse e quanto mais você pudesse aparecer com uma música descartável, mais eu gostava, sabe?
Eu não sei... é muito estranho sabe, mas por causa das circunstâncias em que saí, e eu tive de sair, Mac estava sendo totalmente impiedoso de uma forma terrível, em vez de compormos juntos, ele estava tentando pôr o nome dele em tudo e empurrar as pessoas pra fora do lado musical das coisas. Quando ele é seu amigo, você ama o cara, tive boas risadas com ele, sabe, momentos de gargalhadas de doer o estômago, e da mesma forma o outro lado da moeda, agredindo as pessoas, sabe como é? Ele é como um irmão, mas não fazia sentido o que estávamos atravessando. Ele queria reescrever os livros de história e colocar seu nome em tudo. E eu descobri – devido a algumas circunstâncias – que foi de uma forma horrível que ele fez isso.
No último álbum (What Are You Going to do With Your Life?), eu tinha a guarda dos meus filhos e estava passando por divórcio, quando me chamaram para fazer o lance da banda. Era arriscado, entende? Então... Me senti dividido, porque tinha meus filhos e dei duro por aquilo, para de repente largar tudo deixar meus filhos... foi duro. Minha mãe tinha esclerose múltipla e meu pai tinha morrido em 1994, então minha mãe estava numa cadeira de rodas, e quando pediram para irmos pro estúdio gravar, perguntei “Não seria melhor a gente aparecer com algumas músicas primeiro?”, e me disseram “Não, sempre fazemos nosso melhor trabalho no estúdio de uma vez”. E eu pensei, “Isso não tá certo”. E daí Mac tinha aquelas músicas de anos atrás, sabe o trabalho com o Johnny Marr, e ficaram todos surpresos. Daí recebi uma ligação bem no primeiro dia de gravação dizendo que minha mãe tinha tido um enfarto, que no fim era um câncer, então eu fui embora. Alguns dias depois, o médico disse que ela só tinha 6 meses de vida, então quis passar os últimos dias com a minha mãe. Então... com isso, e por descobrir que as músicas já estavam prontas, eu não teria nenhuma chance de ganhar dinheiro com isso. Antes as músicas vinham de diversos lugares, talvez a bateria ou uma base de baixo ou de guitarra, daí a gente juntava numa música tipicamente Bunnymen, colocava as letras em cima e via como ficava, daí mudava se fosse necessário. Mas nunca tínhamos composto em torno de um único compositor antes. E foi sem consentimento, se é que você me entende, então foi isso que me tirou da banda.

IN: Tinha uma sensação melhor em torno de Evergreen?
LP: Sim, isso foi legal, foi muito bom. Eu estava muito apreensivo antes, mas... o que rolou foi que Will e eu ainda mantínhamos contato e ainda tínhamos um depósito juntos; eles estavam fazendo o Electrafixion, e de qualquer forma, era a minha vez de cobrar o aluguel [do depósito]. Então eu fui na casa do Will e dei a parte dele do aluguel, e ele estava agindo muito discretamente, e eu perguntei “O que foi?”, e ele: “Nada, nada”, daí eu estava saindo e tinha me esquecido de entregar o dinheiro pra ele, daí voltei e estava para bater na porta quando ele abriu e disse “Vou te falar o que é, Les, você tá a fim de se reunir com os Bunnymen de novo?”. Eu fiquei meio na dúvida, mas daí ele disse para aparecer lá e ver o que estava rolando. Então a gente foi na casa do Mac, isso foi depois de um monte de ligações dizendo que ele estava exausto, ele tava de saco cheio do lance de gravadora, não era mais como antes, ele de fato escuta o que as pessoas têm a dizer, sabe? Eu não sabia o que estava acontecendo, porque não falava com ele há três anos, então fomos ao porão da casa dele e começamos a escrever coisas juntos. Acho que Will e Mac tinham uma ou duas idéias, daí pensei, espera aí, o que está acontecendo aqui, essa música parece que já está pronta, não vale a pena eu tocá-la, daí falavam “Ah vai ser como nos velhos tempos, você vai ter a sua parte, não se preocupe. Tudo dividido em três, se não for assim, não funciona”. Então desde o começo era assim, e escrevemos várias coisas juntos, e era como nos velhos tempos, em que cochichávamos um com o outro.

IN: I´ll Fly Tonight é uma das minhas favoritas nesse álbum. É um clássico dos Bunnymen...
LP: É... todos nós contribuímos nos arranjos, e essa é a mágica, sabe? Essas eram as melhores coisas dos velhos Bunnymen, alguém podia ter só uma linha, e todos começavam, não a estragá-la ou aumentá-la demais, mas a usar aquela linha.

IN: E claro, Nothing Lasts Forever deve ser o maior single da volta de todos os tempos...
LP: É, eu ouvi essa hoje. Eu tinha um rádio ligado no barco, mas estava trabalhando do lado de fora no topo do barco a uns 15 metros dali com um monte de outros caras, e eu disse “Espera aí, estão tocando nossa música!”, e eles responderam “Que música? Do que você tá falando?”, então eu corri lá dentro e aumentei o volume, foi fantástico. Inicialmente houve muita reflexão sobre coisas como essas. Originalmente seria chamada Never, Never, Never... e daí Mac cantou “Nothing Lasts Forever” no refrão, e aí falei “É isso! Essa é a nossa música!”, e ele disse “É, você tem razão!”. Foi brilhante, um daqueles momentos.



IN: Você poderia se ver voltando a tocar no futuro?
LP: Devo admitir, não me importaria em tocar baixo de novo, numa jam session, sabe. Eu adoro a coisa de gravar, mas ao vivo é um jogo de gente jovem... Acho que como banda éramos jovens, e todos os fãs dos Bunnymen cresceram. Mas, claro, ainda estamos juntando prêmios para o Coldplay!

IN: Não sei se Chris Martin de fato capta o que é tudo isso...
LP: Devo admitir que os vi em Manchester, e achei bom, mas, para mim, não se sai dançando logo na primeira música. Tipo, ele está se forçando a isso. Eu sei que é estranho e meio 'David Byrne' de certa forma, mas faltou alguma coisa com certeza.
Os discos deles têm o mesmo efeito na pista de dança que tinham os álbuns dos Bunnymen... Acabei de voltar de férias, e tudo que os caras na disco tocavam era a porra de Billie-Jean. Eu peguei emprestado esse I-Pod de um canadense, que tinha um pouco de 50 Cent, não que eu seja um grande fã, mas é melhor que Billie-Jean – e a minha esposa comprou um disco do Coldplay, e eu fiquei tocando Talk no fone de ouvido, estava começando a gostar, e aí pensei “Vou tocar isso na disco hoje à noite”. Então coloquei, pensando que os canadenses iriam gostar, e a pista esvaziou! Eu estava sorrindo, e todo mundo perguntava “Por que você está sorrindo?”. Isso me lembrou os discos dos Bunnymen. Todos gostavam tanto, mas quando você colocava na pista, esvaziava!

IN: Foi por isso que Never Stop foi feita?
LP: É! Vou te dizer uma coisa, acho que tenho na garagem a versão original de Never Stop, acho que vou jogar fora na verdade, o título era I Wish I Was a Garden. Tinha uma banda chamada Ravishing Beauties, que durou pouco, com três garotas tocando violino, corno inglês e teclados (ou algo do tipo), e elas eram muito estranhas. A garota que tocava corno inglês estava saindo com Dave Balfe, e ela tocou na música e ficou muito bonito. Se transformou em Never Stop a partir desse tipo de música com corno inglês, gravada no estúdio de Mickey Most em Londres. Está aí outra coisa... não foi o Steve Lillywhite que fez todos os primeiros trabalhos do U2? (foi sim – responde o editor) Ele entrou no estúdio e começou “Ah, certo, que tal colocar suas guitarra naquele amplificador ali, Will?”. O Will olhou pra ele e disse “Quem diabos é você?”, foi maravilhoso. E ele ficou tão chateado, que respondeu “Acho que isso não vai dar certo”, e saiu, foi maravilhoso. A gente não queria o cara mesmo!

IN: O Will sabia quem ele era?
LP: Acho que não. Acho que nenhum de nós sabia! Ele tava sendo muito autoritário. O lance é que não sabíamos como gravar, mas ele sabia que sons queríamos, sabe, e o Will tinha seus equipamentos montados, e esse cara começa a brincar com o amplificador, daí tipo... por que você não coloca o amplificador na calcinha, entende?

IN: Para terminar, e mais importante, quando foi a última vez em que você se transformou num cachorro por completo?
LP: Na verdade, foi em 8 de fevereiro deste ano. Eu mordi alguém no joelho, de férias em Cuba. Foi de noite, e foi algum canadense que conhecemos. Ele tinha uma queda por cachorro de rua, então me escondi num canto e o mordi no joelho. Eu mal conhecia o cara, mas nos tornamos bons amigos depois disso!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Echo & The Bunnymen – Especial de 30º aniversário – 27 de novembro de 2008

Tradução da matéria do jornal Echo de Liverpool
Echo & The Bunnymen – Especial de 30º aniversário – 27 de novembro de 2008

Link para a matéria me inglês


A história atrás das lendas de Liverpool
Por Jade Wright

Os Bunnymen definiram o som de uma geração com suas letras misturando tristeza e alegria e melodias memoráveis. As lendas de Liverpool atraíram muitos seguidores cult e elas ainda são uma influência importantíssima para um monte de bandas famosas de hoje.
Formado na selvageria musical de 1978, o Echo trouxe sua própria marca da new wave psicodélica e seu estilo militar de brechó para o grande público.
Ian McCulloch em si permanece sempre jovem e impossivelmente cool, e Will Sergeant um guitarrista que nunca para de surpreender!
Os Bunnymen são agora uma influência para toda uma nova geração de bandas.
O nome da banda se tornou uma marca cultural; uma abreviação para um som que gerou milhares de imitações.
Agora, 30 anos desde seu primeiro sucesso, eles renasceram e recentemente tocaram Ocean Rain, seu álbum clássico, em shows esgotados no Royal Albert Hall e Radio City Music Hall em Nova York. Ambos os shows obtiveram muitos elogios – e eles acabaram de gravar um novo álbum referencial intitulado The Fountain a ser lançado em 2009.

Eles vêm construindo seu próprio caminho há 30 anos, e o resto do mundo musical está correndo para alcançar esse patamar. A formação atual envolve os integrantes originais Ian McCulloch e Will Sergeant, junto com Nick Kilroe na bateria, Stephen Brannan no baixo, Gordy Goudie na guitarra e Paul Fleming nos teclados.

1978



“Tudo começou no Eric´s”, diz Will. “Nós íamos lá duas ou três vezes por semana. Era onde estavam nossos amigos – e sempre havia bandas interessantes tocando.“É lisonjeiro ter bandas influenciadas por nós. Mas também fomos influenciados. David Bowie, Velvet Underground, Talking Heads e Roxy Music”, ele diz.
O nome da banda veio de um colega de quarto de Mac na época, Smelly Elly, depois de recusarem esses nomes clássicos como Glycerol and the Fan Extractors, Mona Lisa and the Grease Guns e The Daz Men.
O primeiro show dos Bunnymen foi no Eric´s no dia 15 de novembro de 1978 diante de uma pequena audiência de 30 pessoas, todas as quais conheciam a banda. Eles tocaram uma música chamada ‘I Bagsy Yours’, que era a versão anterior de ‘Monkeys’. Era a única música que eles tinham e durou 15 minutos. No fim da música, Will desligou a bateria eletrônica, um silêncio estupefator pairou no ar, e depois, aplausos. Les lembra que foi legal tocar alto, já que os ensaios na casa do Will tinham de ser em volume baixo. Mac lembra “Assim que descemos do palco, eu queria subir lá de novo”.
Apenas 4 meses depois em março de 1979, o primeiro single da banda –- ‘Pictures on my wall/Read it in books’ – era lançado pela Zoo Records. A Zoo Records tinha sido criada pelo então empresário deles, Bill Drummond, e Dave Balfe.O single foi lançado em 5 de maio, 20º aniversário de Mac. A Zoo imprimiu 4000 cópias; foi para ser single da semana nos semanários NME e Sounds. Portanto, seis meses depois de seu primeiro show no Eric´s, os Bunnymen se tornaram repentinamente a coisa mais promissora, e a Zoo rapidamente imprimiu mais 3000 cópias.

Decidiu-se que a banda precisava de um baterista.

Entra Pete de Freitas, nascido em Port of Spain, Trinidad, seu irmão conhecia Dave Balfe das viagens da Zoo a Londres, Pete estava dentro. O primeiro show de Pete com a banda foi no Nashville Rooms em Londres, Pete logo ganhou a reputação como um dos melhores bateristas então. Um mês depois e os Bunnymen assinavam contrato com a Korova Records (o selo super cool formado pela Warner Bros como a casa de seus novos contratos), e um novo capítulo se iniciava na história da música. As coisas não seriam mais as mesmas. “Korova foi nosso primeiro grande selo – estávamos num outro selo independente antes disso, mas eles eram os grandes que ajudaram a nos lançar”, explica Ian.

1980




No dia 5 de maio o grupo lançava seu primeiro selo pelo Korova, Rescue/Simple Stuff, produzido por Kingbird (Ian Broudie), atingindo o número 61 das paradas, quase seguido de Crocodiles, seu primeiro LP, em julho daquele ano. O compromisso de Ian Broudie com sua própria banda Original Mirrors o impediu de produzir Crocodiles, por isso entraram os Chamaleons (também conhecidos como Drummond e Balfe).
Crocodiles foi lançado com enorme aprovação da crítica em 18 de julho de 1980 e logo chegou ao Top 20. As críticas nunca foram tão extasiadas ao elogiarem o álbum de estréia de uma banda desconhecida.Crocodiles está destinado a ser um dos álbuns de rock contemporâneo do ano, escrevia o semanário NME. Continua sendo até hoje um dos mais extraordinários álbuns de estréia do nosso tempo. O fotógrafo Brian Griffin, que fez a capa de Crocodiles, lembra que os Bunnymen queriam atear fogo numa árvore. Em vez disso, Griffin sugeriu que iluminassem uma pequena clareira num bosque, e assim começavam as clássicas capas dos álbuns dos Bunnymen.
A banda então empreendeu sua primeira turnê nacional por clubes e faculdades ao longo de julho e agosto.
Em outubro, seu segundo single The Puppet/Do It Clean (um lado B grandioso) era lançado e alcançava apenas a posição 91 nas paradas. Uma turnê britânica mais cara fez com que evoluíssem seu estilo “camo” (Nota do Lips: de camuflado,por causa das roupas militares) e seu cenário apocalíptico. Nenhum fã de carteirinha assistia aos shows sem antes visitar as lojas de sobras do Exército e da Marinha.
“A gente começou toda aquela coisa da camuflagem porque era barato”, diz Ian.
“Queríamos um visual, um estilo, e aquele foi o que pudemos fazer”.
“Outras bandas na época fingiam que não tinham dinheiro, para parecerem cool. Viemos da periferia de Liverpool. Não tínhamos nada, e todas essas bandas estavam nos copiando”.

1981

Desde o começo, a banda sempre quis tocar em lugares incomuns e expandir as barreiras do que era possível. Eles tocaram uma única data especial em 17 de janeiro daquele ano no distrito de Peak em Derbyshire, tocando nos jardins do Buxton Pavillion. Os fãs recebiam mapas e eram levados ao local misterioso de ônibus, alguns vieram de todo lugar só para ver os Bunnymen tocarem; o show estava previsto para as 5 da tarde para que as pessoas pudessem voltar para casa mais facilmente, já que em janeiro havia neve.
A essa altura, e exigência por mais músicas aumentava, e em maio eles lançaram um EP 12” ao vivo, Shine So Hard, gravado no show misterioso no Buxton Pavillion. Chegou ao Top 40 em poucos dias.
Logo depois, em março daquele ano, os Bunnymen começaram uma turnê pelos EUA.
“Eu adorei excursionar pelos EUA”, diz Ian. Essa iria ser a primeira de muitas. Em sua volta triunfante, a banda fez sua primeira grande turnê pelo Reino Unido, culminando num show esgotado no Hammersmith Odeon. O estilo “camo-chic” foi deixado de lado, pois estava ficando mais popular que a própria banda.
Sem parar para respirar, em junho, o segundo álbum da banda, Heaven Up Here foi lançado e chegou logo ao Top 10 das paradas. Mais uma vez, tratava-se de uma capa clássica. Brian Griffin foi escolhido para fotografar a capa, e seu único resumo eram gaivotas. Em Porthcaw, perto de Rockfield, ele encontrou uma praia ideal e fotografou a banda num pôr-do-sol promissor. Foi uma seção incrivelmente maravilhosa, e mais uma vez tornou-se assunto de discussão. “Tinha um clima”, diz Griffin. “E estava olhando para o futuro”. O designer Martin Atkins teve que brigar com a gravadora para manter aquelas fotos, diz Griffin. “Eles sempre querem ver os rostos da banda!”.
Vencida a batalha, Brian sentiu que tinha quebrado duas barreiras com a capa de Heaven Up Here. “Primeiro, fizemos duas capas de álbum que estavam se fortalecendo e melhorando; segundo, conseguimos manter a banda longe da câmera”.
Muitas das canções regulares ao vivo saíram deste LP – Over the wall, All my colours, Show of strength e No dark things. Eles rapidamente estavam se tornando conhecidos como a melhor banda ao vivo do mundo.
Em julho foi lançada A Promise do álbum Heaven Up Here, e em agosto o vídeo de Buxton, Shine So Hard, abria o ICA por uma semana em Londres, junto com outro vídeo curto, La Via Lounge, filmado na Europa. Passou também em cinemas selecionados por todo o país. Em outubro e novembro, os Bunnymen voltavam aos EUA e depois foram para a Austrália e Nova Zelândia. Seguiram-se uma turnê pela Alemanha e mais dez datas pelo Reino Unido antes do tão merecido break para o Natal.

1982

O ano começou com o lançamento dos vídeos Shine So Hard/LaVia Lounge e, disfarçado de Louis Vincent, Pete de Freitas produziu o elogiado primeiro e último single dos Wild Swans: Revolutionary Spirit. Em abril, os Bunnymen fizeram uma turnê pelas terras altas da Escócia. O jovem Ian Broudie tocou como convidado na guitarra e atrás da mesa de mixagem, e a banda achou que ele fez um bom trabalho. Tão bem que em maio daquele ano, Back of Love, produzido por Ian Broudie sob o disfarce de Kingbird, deu à banda seu primeiro single Top 20. Dando continuidade às explorações multimídia, Will Sergeant gravou a trilha do filme ainda incompleto, Grind. O LP foi lançado no começo de 1983, e o filme está ainda inacabado.
Em julho, os Bunnymen eram a atração principal do festival WOMAD. Uma versão ao vivo de All My Colours foi gravada com os percussionistas do Borundi. O grupo então se apresentou numa série de festivais europeus e fez uma visita relâmpago em Nova York. Tornando-se cada vez mais conhecidos, eles tocaram no Sefton Park em Liverpool para vinte mil pessoas, em novembro, como parte de uma série da BBC – Pop Carnival –, antes de filmarem seis faixas do futuro LP em Liverpool e na Islândia.

1983

Em janeiro, o single The Cutter foi lançado, e os Bunnymen eram, finalmente, uma banda top 10. A versão 12” incluía All My Colours ao vivo com os Burundi Drummers. Lançavam Porcupine, seu terceiro álbum. Em julho, seguindo o sucesso do hit Never Stop nos Top 20, a turnê pós-Porcupine via os Bunnymen em lugares ainda mais bizarros. Iniciando nas ilhas escocesas e culminando no Royal Albert Hall em Londres, os Bunnymen “entregaram seus casacos e dançaram” .
“Fizemos dois shows lá”, explica Ian. “Foi no tempo em tocávamos nos lugares mais estranhos que encontrávamos”. “Queríamos algum lugar para tocar em Londres onde ninguém nunca tivesse tocado. Àquela altura, esse lugar era o Royal Albert Hall”. “Eles não agendavam bandas naquela época". “Acho que foi Mott The Hoople que tocou lá em 1973”.“Tinha havido confusão e muitos prejuízos. Eles disseram: bandas nunca mais”. “Levou um ano com reuniões para que nosso empresário e promoter nos colocasse lá”. “Eles entravam e tocavam nossas faixas acústicas para as pessoas responsáveis pelo Hall para provar que não éramos uma banda de rock. Acho que eles tocaram Simon & Garfunkel para eles dizendo que éramos nós.” “Finalmente tínhamos que ir em frente e tocar. Foi ótimo”. “É um lugar espantoso de se tocar. É como fazer parte da história”.



A turnê teve a formação aumentada com guitarrista adicional, percussionista, violinista e violoncelista engrossando o grupo. Depois de passar mais tempo em Liverpool, a banda gravou sua sexta sessão para o programa de John Peel em setembro, que incluiu Nocturnal Me, Ocean Rain e Watch Out Below. A estréia ao vivo de The Killing Moon, Seven Seas e Silver veio em mais um lugar incomum – O teatro Royal Shakespeare em Stratford-upon-Avon [cidade natal do escritor]. “O diretor na época nos chamou para tocar lá”, explica Ian. “Ele disse que eu era Shakespeare de Liverpool. Como eu poderia recusar?” Eles ainda são a única banda que tocaram lá.


1984

O ano começou com um super single. The Killing Moon foi lançado e deu ao grupo mais um hit no Top 10 em janeiro. Uma viagem ao Japão foi outra revelação. Bunnymania era comum. Eles sobreviveram a um tremor de terra, mas o auge para todos envolvidos foi “comer um bife num trem-bala a 253 km/h”. Na volta, o quarto álbum, chamado Ocean Rain, foi finalizado nos estúdios Amazon em Liverpool. “O melhor álbum já feito”, ou assim diziam os anúncios publicitários, foi lançado em 4 de maio na cola de outro single, a maravilhosa Silver.
Mais adiante, em 12 de maio, o evento de acontecimentos falsos em Liverpool, A Crystal Day. Dentre outros eventos, o dia incluía um rali de bicicleta, um passeio de balsa no Mersey Ferry, um recital de coral na catedral, culminando num show dos Bunnymen no Saint George´s Hall. Pertinentemente, o último grupo a se apresentar ali tinha sido os Beatles em 1961. O show foi filmado para o programa Midsummer Night´s Tube. Em junho, Seven Seas, o segundo single de Ocean Rain, deu à banda outro hit. No fim desse ano, os Bunnymen tiraram um ano de férias para se recuperarem e se rejuvenescerem.

1985
Um ano de folga é muito tempo.


A vontade de excursionar veio em abril. Nada convencionais como nunca, eles tocaram em pequenos lugares pela Escandinávia, duas seções por noite, incluindo uma de covers. Os shows mundialmente pirateados. Eles tocaram Paint it Black, Soul Kitchen, Friction, Action Woman e outras. Verdadeiro punk. Em julho, eles foram a atração principal da última noite do festival de Glastonbury em meio a lama e barro da chuva do fim de semana.
Em outubro, um som de certa forma diferente do que haviam feito surgiu no primeiro single depois de um ano, Bring on the Dancing Horses, produzido por Laurie Latham em Bruxelas.
A magnífica Bedbugs & Ballyhoo foi discutivelmente o melhor lado-B. Um mês depois, a coletânea de singles dos Bunnymen aparecia com todos os lados A na forma de single original.

1986

O ano começava, e Pete de Freitas saía para sua versão particular de Lost Weekend.
Ele se juntou a num novo grupo, The Sex Gods, gravando e filmando. Tendo Pete saido sem permissão, os Bunnymen fizeram turnê pelos EUA com o baterista Blair Cunningham. Essa formação tocou uma única data no Reino Unido no Royal Albert Hall para o Greenpeace. Em junho, ainda sem Pete, os três originais Bunnymen deixaram de lado as tentativas de um sexto LP. Um mês depois, Pete subiu de novo no "ônibus" para duas canções ao vivo na maratona The Old Grey Whistle Test´s Rock Around The Clock, e eles começavam a gravar de novo com a produção de Laurie Latham em setembro.
Nos seis meses seguintes, entre altos e baixos, numa variedade de estúdios em Berlim, Bruxelas, Londres e Liverpool, o sexto LP foi gravado. A banda nunca ficou totalmente satisfeita com os resultados. Em dezembro, Ray Manzarek, dos Doors, produziu e tocou numa versão de People Are Strange. Ian McCulloch acabou se tornando o Jim Morrison na faixa gravada para o filme The Lost Boys [Garotos Perdidos, no Brasil].

1987



A banda fez show no Brasil, ninguém sabia o que esperar daqui, milhares de pessoas apareceram no aeroporto para ver a banda chegar, era como Beatlemania. Eles também fizeram o vídeo para The Game no Brasil, novamente com a direção de Anton Corbijin. Em junho, The Game do sexto LP foi lançado no Reino Unido, atingindo o Top 20. O álbum em si, Echo & The Bunnymen, foi lançado e tornou-se de longe o disco deles mais vendido nos EUA. Foi também um LP Top 5 no Reino Unido. Em agosto, Lips Like Sugar chegava às lojas – outro hit Top 40 no Reino Unido. A banda passou o resto do ano excursionando pelo Reino Unido e EUA – eles entraram em 1988 com mais datas pelo mundo, nos EUA e na Ásia. O estresse e a pressão, quando entravam em seus décimo ano, foram a gota d´água. Atritos internos e conflitos pessoais alcançaram um ponto em que havia constantes rumores de que a banda tinha se separado.

1988

Ironicamente, o hit revival dos Doors de 1967, People Are Strange, produzido por Ray Manzarek, chegava ao número 12 das paradas americanas em março, chegando facilmente à marca de maior hit lá. A música de Lost Boys deu a eles outro Top 30 na Inglaterra. No meio de tudo isso, Ian McCulloch anunciava que estava deixando a banda. Seu último show foi no Japão em 26 de abril.

1989



A tragédia bateu em 14 de junho quando Pete de Freitas foi morto ao colidir sua moto com um carro. Pete estava voltando para Liverpool para começar os ensaios com Will e Les. Descanse em paz.
Em outubro daquele ano, foi lançado o álbum solo de estréia de McCulloch, Candleland, precedido do single Proud to Fall. Ele começou a excursionar de novo alguns meses depois com uma nova banda, The Prodigal Sons, e lançou um segundo single, Faith and Healing, em março de 1991. Relançada depois do filme Lost Boys aparecer na TV, People are Strange atingiu ao Top 40 na Inglaterra pela segunda vez.

1995

Will e Mac se reuniram como uma banda nova, Electrafixion. Um LP, Burned, era lançado. O Electrafixion conseguiu, no entanto, muitos seguidores durante as turnês. Eles até mesmo tiveram um hit Top 30 na Inglaterra, Sister Pain, no ano seguinte.



1996

Nos EUA, o status cult do Echo & The Bunnymen continuava a crescer. Sua grandiosidade tendo sido atribuída por gente como Kurt Cobain e Courtney Love, que não fizeram mais que gravar uma versão de Do it Clean com o Hole. Outras bandas americanas também estavam gravando músicas dos Bunnymen. Os Flaming Lips geralmente abriam seu set com All That Jazz, o Pavement costumava fechar com The Killing Moon.
Depois de uma última turnê pelos EUA como Electrafixion, Will e Mac estavam tocando cada vez mais músicas do Echo ao vivo. Como diz Will, “por que ser Electrafixion quando você pode ser os Bunnymen?”. Les voltou ao grupo e o Echo & The Bunnymen renascia. Avançando aos poucos e com certa dificuldade com uma competição ameaçadora, a London Records assinou com a banda no fim de 1996.

1997

Will Sergeant, Ian McCulloch e Les Pattinson estavam juntos de novo no estúdio pela primeira vez em dez anos. Um mês depois, eles tinham finalizado o último LP do Echo & The Bunnymen. Eles viram o resultado final, 12 novas canções, nem tanto como uma reformulação, mas como uma continuação de onde haviam parado uns nove anos atrás. A banda fez sua volta aos palcos na Inglaterra em 14 de maio no Cream (onde mais se não em Liverpool). Três dias depois, eles tocaram no Mercury Lounge em Nova York, o começo de um mês de shows nos EUA, uma mistura de seus próprios shows e festivais de rádio de prestígio incluindo K-ROQ em Los Angeles, onde dividiram a conta com seus novos contemporâneos – Oasis, Blur e Radiohead.

As críticas aos shows atestam a volta triunfante dos Bunnymen: “É inacreditavelmente bom. A primeira volta da história a não ser seguida por uma sensação nauseante de sofrimento, a primeira a soar verdadeiramente importante” (NME).

“Não é nostalgia, porque mais da metade do setlist é nova e – aqui está a piada – as novas músicas são tão boas quanto às antigas e provavelmente melhores do qualquer coisa que você vai ouvir este ano” (Melody Maker).

Seguindo o lançamento de um novo “Best Of”, intitulado Bedbugs and Ballyhoo pela antiga gravadora Warners, o primeiro novo single dos Bunnymen foi sua estréia pela London Records em 16 de junho. Uma semana depois, a maravilhosa Nothing Lasts Forever atingiu o oitavo lugar no Top 10 da Inglaterra. Os Bunnymen já tinham alcançado o que nenhuma outra banda conseguiu, uma volta comercialmente, conceitualmente e criticamente igual às suas conquistas históricas do passado. O LP Evergreen foi lançado em 14 de julho, atingindo o Top 10.
O lado mais glorioso dos Bunnymen era mostrado ao mundo, muito mais aberto e tão relevante quanto qualquer banda hoje ou ontem. Este era o Echo & The Bunnymen em 1997, bom como sempre – talvez ainda melhor. Uma história pela qual morrer e um futuro para o qual viver. Em dezembro, Evergreen havia feito mais dois hits: Don´t Let it Get You Down e I Want to Be There (When You Come); uma turnê pelo Reino Unido em outubro com ingressos esgotados em todo lugar, culminando em duas noites com capacidade lotada no Kilburn National de Londres. Nos EUA, eles excursionaram extensivamente, incluindo os principais festivais de rádio e seus próprios shows como headlines. Em alguns lugares, falava-se das conquistas dos Bunnymen como a maior volta desde o Elvis Presley.


1998

Depois de uma bem sucedida turnê européia, os Bunnymen fizeram uma curta temporada pelo Reino Unido em fevereiro. Eles tocaram no Brixton Academy com ingressos esgotados, como aponta o NME, “eles são, inacreditavelmente, tão bons ao vivo quanto o Verve – ou qualquer um desses por aí”. On The Top Of The World, uma música de Ian McCulloch, escrita originalmente com Johnny Marr, é reavivada e escolhida pela Associação de Futebol como a canção oficial da Inglaterra na Copa do Mundo. Foi gravada pelos Bunnymen com as Spice Girls, Tommy Scott da banda Space, e Simon Fowler do Ocean Colour Scene sob o nome de England United.
O single foi direto para o Top 10 e vendeu excepcionalmente bem no mundo inteiro. Para Ian McCulloch, é ainda um dos momentos de maior orgulho de sua carreira.

1999

Em março, o single Rust subiu ao Top 20. O LP veio um mês depois. O álbum com o título mais longo de todos do Echo, What Are You Going To Do With Your Life? conquistou ainda mais elogios da crítica do que Evergreen.

2000

Os Bunnymen gravam uma mistura de covers – algumas de suas músicas, além de Hang On A Dream de Tim Hardin e It´s All Over Now Baby Blue de Bob Dylan – para um lançamento exclusivamente online. Era um mini LP apenas “para verdadeiros fãs” e foi disponibilizado enfim por determinado período em outubro.

2001

Os Bunnymen assinavam com uma nova gravadora, Cooking Vinyl, lançando o primeiro single, It´s Alright. Will e Mac juntaram-se a três músicos de Liverpool para as novas gravações produzidas por eles mesmos: Alex Gleave no baixo, Vinny Jamieson na bateria e Ceri James nos teclados. O novo álbum, o oitavo de estúdio, Flowers, foi lançado com uma das melhores críticas que já tiveram em sua carreira. Refletindo uma ligação criativa mais forte entre Will e Mac, o disco foi o mais direcionado às guitarras e mais psicodélico que já fizeram desde o começo dos anos 80.
Uma caixa admirável com quatro CDs, 71 faixas, foi lançada mundialmente pela Warners em abril.
Crystal Days: 1979-1999 contém dois CDs com material raro e inédito, o que significou uma grande retrospectiva da carreira reafirmando a grandiosidade dos Bunnymen. A banda promoveu Flowers e Crystal Days com datas pelo Reino Unido, Europa, EUA, uma apresentação no Fuji Rock Festival no Japão e terminando com sua primeira turnê na Austrália desde 1981. Na volta, eles embarcaram numa turnê com sucesso de bilheteria nos EUA junto o Psychedelic Furs.

2002

O ano começou com uma pequena turnê na Inglaterra para promover o lançamento de Live in Liverpool, o primeiro álbum ao vivo da banda, gravado no LIPA em 17 e 18 de agosto, com 17 faixas, desde as clássicas Zimbo e All That Jazz até músicas de Flowers. Em maio, a banda foi de novo para o Brasil e tocou três noites, duas em São Paulo e uma no Rio de Janeiro, antes de retornar para tocar os grandes hits no Finsbury Park, em Londres, na apresentação do New Order, com Chris Martin do Coldplay como convidado nos vocais de Nothing Lasts Forever. Em outubro, eles ganharam o cobiçado Prêmio Q Inspiration num ano em que sua influência parecia ter vindo à tona novamente, inspirando uma nova onde de bandas de Liverpool, tendo o The Coral como linha de frente.


2003

Crescia a amizade da banda com o Coldplay.
Chris Martin nunca fez segredo de sua imensa admiração pela voz de Ian – ainda tão clara hoje quanto era no auge dos Bunnymen. E aí, como foi conhecê-lo? “Eu não conheci o Chris Martin”, diz Ian. “Ele me conheceu”. E vai além: “Pois com Rush of Blood To The Head, ele veio me ver recolher o máximo de informação possível”. “Ele é muito legal. Ele tinha tido uns desentendimentos na imprensa pelo último álbum e me ligou”. “Parecia que, nos anos 90, ninguém estava muito interessado por nós ou pelo que estávamos fazendo. Daí pessoas como o Chris chegam e ajudam a nos trazer de volta aos holofotes”.

2005

A banda lançou o álbum Siberia com críticas positivas, com alguns comentaristas chamando-o de o melhor trabalho desde Ocean Rain.


2006


Echo & The Bunnymen lançaram uma versão atualizada da coletânea Songs To Learn And Sing de 1985. Rebatizada como More Songs to Learn and Sing, essa coletânea foi lançada em duas versões, uma com um CD de 17 faixas, e a outra um DVD com oito vídeos de sua carreira.

2007

Em março, a banda anunciava que tinham assinado novamente com a gravadora original, Warner, e que estavam trabalhando num novo álbum. “Tipo, completamos um ciclo: somos parte da família Warner Bros, como Bugs Bunny ”(Nota do Lips: BugsBunny = Pernalonga", diz Ian. “Somos o Echo & The Bugs Bunnymen”. Um DVD ao vivo intitulado Dancing Horses, contendo também entrevistas com a banda, foi lançado em maio. No verão de 2007, a banda foi premiada com o prestigioso Maverick da revista Mojo.


2008




No ano de Liverpool como a Capital da Cultura, os Bunnymen tornaram-se a primeira banda a tocar no novo ECHO Arena na cerimônia de abertura da Capital da Cultura – eles tocaram Nothing Lasts Forever, acompanhados da Orquestra Filarmônica Real de Liverpool. O resto do ano mostra a banda dando os toques finais no novo álbum, com algumas aparições em festivais no verão, incluindo T in the Park e Festival V. Um brinde aos próximos 30 anos de brilho no topo do sucesso. Com certeza vocês merecem...


Citações de várias pessoas e votos de felicitações pelos 30 anos:

Chris Martin “Os Bunnymen são o equivalente musical de Marmita... Ou você os ama ou você é um ****”

Miles Kane (The Rascals/ The Last Shadow Puppets) “O Echo é uma das minhas bandas favoritas, eles foram uma grande inspiração pra mim. A melodia do canto é sombria e dramática, é o tipo de música que gosto de cantar e escrever. Do trabalho de guitarra em Show Of Strength do Heaven Up Here ao vocal obsessivo de Nocturnal Me de Ocean Rain. Esses dois discos são perfeitos para mim. Nós também regravamos All That Jazz do Crocodiles, porque é pura batida e faz seus joelhos tremerem. Acabamos de voltar de uma turnê, então estamos muito ansiosos com o show no ECHO Arena. Ainda esperando pelo convite para subir lá e cantar com eles – meu telefone está vibrando!”

Janice Long (Radialista) “Muito obrigada pelos 30 anos de grandes músicas, shows e lembranças. Vocês ocupam mais espaço no meu iPod do que outros, e Ocean Rain é ainda meu álbum favorito. Genial. Ian, obrigada por ser divertido, um babysitter, um sujeito legal das palavras-cruzadas, um doador de entradas para jogos de futebol, um ombro para chorar, um grande amigo. Com amor a todos vocês, sua maior fã”.

Guy Garvey (Elbow) “Os Bunnymen são parte tão intrínseca da música que tudo viria abaixo sem eles, como uma torre de cartas de baralho”.

Pat Gilbert (Revista Mojo) “Há inúmeras razões para o brilhantismo dos Bunnymen, mas uma delas é o fato de terem feito Escola de Artes sem nunca terem freqüentado a Escola de Artes. Quer dizer que eles vieram à música de um ângulo completamente original. O fato de serem, melhor que ninguém, esses garotos de classe operária de Liverpool, tentando juntar os fantasmas dos Doors e Lou Reed, deu a eles uma estranha energia e força: suas músicas eram obscuras, enaltecedoras e sérias, mas também cheias de humor e humanidade. Eles não tiram medo de ser românticos e misteriosos e de ter valores. Na verdade, eles não tinham medo de nada. Eles eram o sinal de dignidade e orgulho numa década repleta de ****”.
Richard Hawley “Ocean Rain foi o único álbum para o qual eu fiquei na fila para comprar quando do lançamento. Esperei na chuva do lado de fora da loja. Estava atrasado para a aula e me dei mal com isso. Se fosse lançado amanhã, faria tudo de novo. Definitivamente foi de longe o álbum mais importante de seu tempo e é um dos meus favoritos. Os Bunnymen rule!”.
Ao Ian e Will: Parabéns aos dois pelos 30 anos de grande música...e muitos outros por vir. Tem sido um prazer trabalhar com vocês. Com amor, Peasy & Pete Byrne (Porcupine Management)

Ian e Will – Parabéns pelo show maravilhoso [ref. Liverpool Echo Arena] – C.C Young & Co.

Ken Nelson (produtor do Grammy) “A primeira vez que ouvi os Bunnymen foi no rádio. Pictures on My Wall era a música, e eu lembro comentar com um amigo, que tinha uma cópia de Rescue, o quanto eu tinha achado legal essa música. Fiquei muito interessado e comprei Crocodiles assim que saiu. Que disco maravilhoso! Daí eles seguiram com Heaven Up Here, Porcupine e, claro, Ocean Rain. Cada álbum pelo menos igual ao anterior. E isso não é qualquer banda que consegue. Sem contar o EP Shine So Hard, que adorei. Você pode ouvir a influência deles em tantas grandes bandas de hoje, Arcade Fire, Interpol, The Killers, são os que lembro agora. Tiro o chapéu para o Echo & The Bunnymen pelos 30 anos de grande música”.
John Simm (ator) “Echo & The Bunnymen é (obviamente) uma das maiores bandas que este país já produziu. Perdi as contas de quantas vezes os vi ao vivo, eles nunca me decepcionaram. Se você é fã, o total brilho daquelas músicas, a voz de ouro de Mac e a guitarra vislumbrante de Will vão sempre, de alguma forma, fazer os pelos da sua nuca levantar. Mas quando tocaram Ocean Rain no Royal Albert Hall em setembro, foi incrivelmente tão emocionante, que superou cada show deles que tinha visto. A única maneira de melhorar é quando eles trouxerem esse show pra casa em Liverpool. Não perderia por nada nesse mundo”.

Feliz 30º aniversário – The Bunnymen – e tudo de bom ao Mac & Will por esta grande conquista. Com amor, de Steve e todos da X-Ray.

Rob Gutmann (Korova Corp) “Ocean Rain e os Bunnymen sempre apunhalaram meu pobre coração , e o Ian sempre foi meu cantor favorito. Fiquei honrado em fazer parte do público a testemunhar o grande show no Royal Albert Hall, algumas semanas atrás. Ocean Rain é trilha sonora da vida e dos amores do público, e para aqueles da geração que curtiu a sua glória e foi atrás do navio McCulloch. Todas as mãos se erguerão nas Docas no dia 27. Mal posso esperar”.


Chris Peck (Boy Kill Boy) “Quando vi o Echo & The Bunnymen ao vivo, tive um troço. A gente abriu pra eles quando estavam excursionando pela costa leste dos EUA. Eles foram a única banda que eu vi cada noite, de 50 pontos diferentes. Acabou rolando quase uma ligação psíquica entre mim e o Ian, eu tocando pra ele nosso novo disco às três da manhã, ele tocando o disco deles pra mim. Nos tornamos bons amigos, que foi um privilégio, um total privilégio. Echo & The Bunnymen são lendas. Sempre foram e sempre serão”.
Ian Broudie (The Lightning Seeds) “Ocean Rain, para mim, se destaca como um álbum único e especial desde a primeira vez que o ouvi. Ele capta uma grande banda no momento perfeito e tem uma qualidade duradoura e atemporal, que ainda reflete em cada música. É o melhor álbum nascido nos bancos do rio Mersey”.

Wayne Coin (The Flamming Lips) “Havia algo de especial nos Bunnymen. Eles tinham um nome cool, coisa existencial... era bom o bastante pra nós!”.

Ian McNabb [ex-Icicle Works, de Liverpool] “A primeira vez que os vi foi no festival Futurama em Leeds em 1980. Eles apareceram na hora do chá logo depois do U2. Bono fazia graça com seus saudosos mullets e calças de couro e parecia mais ligado ao passado que ao futuro. Os Bunnymen eram, sem dúvida, mais para o novo, e menos para o antigo. Ian McCulloch era o cara mais cool que eu já tinha visto. Corte de cabelo totalmente original, casaco cinza longo, alto, bonito, voz brilhante. Will Sergeant se escondia atrás de uma franja grossa e evocava mistério de uma Fender Telecaster através de um pedal delay para um amplificador Fender. Les Pattinson tinha um topetão, tocava seqüências claras e melódicas de baixo, que eram engenhosas o bastante para lhe fazer dançar. Ele se parecia um pouco com o James Dean. Pete De Freitas era o maior baterista de sua geração e aparentava uns 14 anos. Uma coisa dos Bunnymen que as pessoas nunca mencionam é o fato de serem uma grande banda dance. Essa banda era FUNKY. Seu adorei eles. Tragédias e separações podem ter arruinado o caminho deles ao longo dos anos, mas quando os vi tocar Ocean Rain no Royal Albert Hall alguns meses atrás, percebi que os anos não diminuíram sua força. Eles foram transcendentes. Mágicos. Poderosos. Sensuais. Perigosos. Ainda os melhores. See you at the barricades”.

www.curlymusic.co.uk – Parabéns ao Echo & The Bunnymen pelos 30 anos de grande música, de todos da Curly Music.

Amamos os Bunnymen – de Philip & Jayne – Picket Liverpool.

Ian McCulloch em Málaga

Tradução da Entrevista com Ian McCulloch em Málaga – Espanha – janeiro de 2009

Por: Verena Kewitz
Link para entrevista em inglês: http://www.surinenglish.com/20090120/news/costasol-malaga/mcculloch-interview-200901201927.html




Depois da noite no Teatro Cervantes em Málaga, tive o desafio de entrevistar o líder da banda, Ian McCulloch, junto com meus colegas Rachel Haynes e Pedro García. Digo desafio porque Ian não é exatamente a mais falante das pessoas, ele mais sai pela tangente, e para qualquer um nascido durante ou antes dos anos 60 e que conheça algo sobre a música alternativa pós-punk, a reputação dele antecede-o.

A lista de perguntas que preparei – a qual, de todo jeito, não conseguia enxergar pela falta de luz – foi-se pela janela quando entramos em várias conversas bizarras sobre personagens favoritos de desenho animado e onde eu tinha comprado meus óculos, do qual Ian disse ter gostado. Mais adepto ao escuro do que à luz – evidente pelo fato de que ele usa óculos escuros o tempo todo – permitiram-nos falar com Ian, que não mudou muito na aparência ao longo dos anos, num camarim escuro do Teatro Cervantes. Incentivado por Pedro, um dos maiores fãs do Echo desde seus 13 anos, tentei fazer perguntas sobre sua música. Mas Ian não estava muito a fim de mergulhar no assunto do sucesso da banda nos anos 80, mas sim de falar mal dos contemporâneos da época. Ele queria mais era falar sobre o presente e o novo álbum ‘The Fountain’, dizendo que a música, cuja letra ele esqueceu durante o show (notei que o público nem percebeu) por conta de sua ingestão de álcool, 'Whatever you want' (nova música) foi ‘incrível’.




Falando da coisa de fumar durante o show. Quando perguntei se ele sempre fazia isso, Ian respondeu com sua autêntica lentidão liverpudiana: “Sim. Mesmo quando é proibido. Eles me falaram pra não fumar... mas pensei ‘Peraí’. Na opinião dele: “Eles deveriam proibir peidar em shows, sobretudo quando o Will tá na banda”. Ele estava falando do outro membro original da banda, Will Sergeant.

Liverpool

E de volta aos anos 80... Na opinião dele: “Acho que que tem vários fãs novos e acho que muitos dos fãs dos anos 80 estão, espero, fazendo outra coisa ou estão na prisão”. Claro que concordei e disse a ele que a maioria dos meus amigos (alguns dos quais devem estar presos agora, eu acho) queriam ser ele na época ou se vestiam como ele. De acordo com Ian: “É pior ainda agora que não posso andar pela Sétima Avenida em Liverpool sem que alguém chegue e diga “ei...!”. Ah tá, Sétima Avenida onde?

Tentemos falar de música de novo. “Ok, mas não muito... mas éramos melhores que o New Order ou qualquer outra porcaria”, ele me disse. No entanto, Ian parecia mesmo se lembrar com carinho da fase pós-punk: “Havia muita coisa acontecendo na época... acho que somos a melhor banda de todos os tempos”, me informava ele. Eu sei, eu estava lá.

Marbella or Malaga?


Certo, talvez a lista de perguntas funcione. Ouvimos dizer que você gosta de Málaga e Marbella em especial? Me disseram sarcasticamente que ele tem um iate e que estava hospedado no hotel cinco estrelas Guadalpín, que nem deve ser de fato cinco estrelas, pois o sabote é tão pequeno e difícil de abrir. Consegui entender o fato: “Gosto mais de Málaga. Sou urbanizado. Adoro estar num lugar onde ninguém me acha”. A verdade é que a única razão para um único show na Espanha nessa época do ano deve-se ao Ian dar um tempo [aqui], e os promotores, seus amigos (ele tem alguns colegas de escola espanhóis que ele convida de vez em quando), organizam tudo, em vez de ser algo especial que o faça voltar só para fazer show.
E continuava. Como ele mesmo nos lembrava: “Estes são os dez minutos mais longos na história do tempo”. Os dez minutos que originalmente haviam nos dados esticaram para vinte. Finalmente, antes de nos expulsarem do Teatro Cervantes, Pedro ousou pedir que ele assinasse os discos Heaven Up Here e Porcupine. Ele levou um ou dois minutos, mas ele gentilmente assinou os discos e disse ao Pedro: “I love you”. “I love you too” disse Pedro em inglês. “I hate you too” disse Ian e eu tive de explicar ao Pedro que a brincadeira dele com as palavras referia-se provavelmente à banda U2 [=you too] e a rivalidade originada há muito tempo, baseada na ascenção do Bono ao status de super estrela.

Então é isso. Pouco antes de sairmos, Ian nos disse: “Vocês me pegaram no meu melhor momento de sabedoria”. Bem, eu me diverti e espero que eu possa receber o desafio, na próxima vez deles aqui, de me misturar aos ricaços de Marbella e cantar The Cutter e The Killing Moon pela enésima vez na frente de um bando de fãs fiéis.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Echo & The Bunnymen / De Liverpool com amor

Tradução da matéria da revista SPIN (dezembro de 2008) – Echo & The Bunnymen

OBS: Tradução sem rigor estilístico; segue a seqüência de cada parágrafo do original para melhor acompanhar o texto; a tradução das legendas das fotos será colocada ao final da tradução; a tradução das frases em destaque no original são colocadas de acordo com a diagramação original, sempre que possível; os termos que não têm um equivalente adequado em português, foram mantidos em inglês, com alguma adaptação à estrutura do português: ex. (ingl.) dark > (port.) darks, sempre em itálico; minhas intervenções ou comentários no meio do texto estão entre [ ]. E ainda acrescento notas de rodapé para esclarecer o uso de alguns termos.



Echo & The Bunnymen / De Liverpool com amor




Céu aqui embaixo

Há trinta anos, E&TB ajudou a despontar uma cena de Liverpool em triste declínio desde que os Beatles estouraram, encontrando caras vestidos de preto como U2 e Joy Division, e inspirando Coldplay e Arcade Fire. Enquanto eles se preparam para lançar seu 11º álbum, Marc Spitz dá uma caminhada pelo Merseyside com os darks românticos pós-punks.


Os deuses, sendo deuses, intervieram. O céu de outono sobre o Radio City Music Hall parece como a inusitada capa do álbum: úmido, azul da meia-noite e pouco iluminado pela lua. É o clima perfeito para uma performance orquestral completa de Ocean Rain, obra-prima do E&TB, com 25 anos de idade na próxima primavera e possivelmente os 36 minutos mais românticos do pop noturno já gravado. Há, no entanto, problemas mundanos. Alguns continuam gritando pela música de 1980 "Do it clean". Ian McCulloch, 49 anos, vocalista, antes guitarrista, dono de um cabelo preto espetado por 3 décadas, está perdendo a paciência. "É, Do it clean não está no Ocean Rain", resmunga. McCulloch já deixou claro que ele precisa de um cigarro desesperadamente. Mas ele está proibido de fumar no local.



A banda acabou de tocar um set de grandes hits. Agora, da cintilante canção de abertura "Silver" à faixa que encerra o álbum, McCulloch, há tempos parceiro de Will Sergeant, o jovem quarteto substituindo o baixista fundador Les Pattinson e o baterista Pete de Freitas, e a seção de cordas de 12 músicos amavelmente recriam o álbum como se estivessem restaurando um Da Vinci. Observando McCulloch de óculos escuros e sobretudo da terceira fileira, é difícil perceber sua irritação. Poderia ser o espasmo da nicotina, mas mais provavelmente é que cada nota tocada perfeitamente parece agora servir para lembrá-lo do quão brilhante sua banda foi e quão lendário ele é hoje; e não poderia uma lenda fazer o que quisesse, especialmente quando está entretendo [o público]? Eles negariam um cigarro ao Sinatra, esses yankes? Ou a Lou Reed? A Leonard Cohen? Esta arrogância tem sido o tendão de Aquiles do E&TB desde 1978. Isso por serem uma das melhores bandas britânicas dos últimos 30 anos - certamente o grupo mais importante de Liverpool desde os Beatles - mas também o motivo pelo qual implodiram antes de se tornarem um promessa com os 4 primeiros álbuns, com reconhecida influência em caras como Coldplay e Arcade Fire. É essencialmente por isso que eles não são U2.



Sergeant e Pattinson eram colegas de escola em Melling, na região rural logo além dos limites da cidade. "Se você mora fora de Liverpool, te chamam de Woolyback [ovelha desgarrada] ", diz Sergeant, 49 anos [sic]. "É um termo depreciativo. É como um sheep-shagger ou algo do tipo". Enquanto não eram próximos, seus caminhos do campo para a cidade eram similares. Na adolescência, ambos se aventuravam para a cidade de ônibus para comprar discos. Sergeant conseguiu uma guitarra Höfner com 13 anos, mas raramente a tocava. Ele estava convencido de que nunca teria esperança de chegar aos pés de seus então-heróis Jimmy Page e Steve Howe (Yes). "Nós tínhamos esse tipo de imagem elevada dos músicos", ele diz. "Você tinha de ser treinado e tecnicamente brilhante. Eu não sabia nem o que era um tempo de abertura".

A sombra dos Beatles, rompida apenas seis anos em 1976, refletiu larga e longamente e intimidou muitos futuros músicos de Liverpool. Mas aquele ano, um show dos Sex Pistols no Eric's em outubro, um porão úmido na Matthew Street (que, ironicamente, tinha sido o local original do Cavern Club que aproximou os Beatles da popularidade), destruiu a idéia de que o rock era exclusivo para virtuosos, e logo bandas adolescentes como os Spitfire Boys se declaravam igualmente válidos. "Os Beatles não tinham na verdade aquela sombra sobre o punk", diz Sergeant. "Lembre-se, Glen Matlock dos Pistols disse que ele gostava dos Beatles e todos ficaram chocados".

"O Eric's em si era um porão", diz Pete Wylie da banda pós-punk soul Wah! (também conhecida como Wah! Heat, The Mighty Wah! e outros), que estava presente naquela noite. "Você descia duas escadas de metal para dentro de uma sala vermelha e preta. E fedia porque é perto do rio, e sistema de esgoto é uma merda, e freqüentemente os banheiros entupiam e inundavam a casa". Quase da noite para o dia, na ligação entre o Eric's, as salas de chá Armadillo e o pub Grapes, uma dúzia de bandas eram criadas e lançadas, muitas das quais deviam suas próprias experiências às calorosas discussões de como deveria ser uma banda. "Todo mundo ficava discutindo", escreve Julian Cope em sua memória Head-On de 1994, "tentando descobrir pelo que você se interessava, ou pelo que não deveria se interessar, em quem poderia confiar, e quem estava dizendo coisas apenas por aparência". A chegada de um grande lançamento na loja de discos Probe, fosse o Marquee Moon do Television ou Low do David Bowie, ou a descoberta de um single Motown antigo, era como poluentes no abastecimento de água.
"Muita atitude", fala Holly Johnson, então do Big in Japan e mais tarde vocalista do Frankie Goes to Hollywood, sobre a sensação do Eric's. "Havia muitos egos ali". Quando bandas de Londres (Clash, Stranglers, Generation X) e mesmo dos EUA (Blondie, Devo) tocavam no Eric's, a cena em Liverpool (a 175 milhas ao norte da capital, no condado de Merseyside) estava determinada a evitar a depender do estímulo exterior além das importações da Probe. "Não éramos contemporâneos a essas pessoas", diz Johnson, "e não estávamos lá para idolatrá-las porque moravam em Londres e tinham seus rostos no New Musical Express. Eles tinham de ser bons para receber uma resposta/reação".
"Bom" era raramente bom o suficiente para Ian McCulloch.

McCulloch, de classe operária, 1,82m de altura, pálido, quieto e pensativo, com rosto de sereia e um tipo de boca malcriada que dizia que ingênuas compram no sul da California , passava muitos de seus dias de escola lendo a HQ Silver Surfer (Surfista Prateado) e fazendo desenhos de David Bowie. "O rosto de Bowie, mas com meus lábios nele", esclarece. "Tudo que eu sempre quis, desde os 13 anos, era ser o melhor cantor da melhor banda do mundo".
Se McCulloch era naturalmente uma estrela, Julian Cope, dois anos mais velho, de classe média e galês, era um acadêmico igualmente em potencial. Ele apareceu na cena quando freqüentava a faculdade City of Liverpool e não falava com sotaque de Liverpool; mas seu conhecimento sobre história do pop e fervor pelo punk logo fizeram dele um membro. Cope se recusou a ser entrevistado nesta edição, e McCulloch apenas diz "Tem um certo grupo, uma certa pessoa de quem não quero falar. Ele é um ladrão, e sempre detestei o grupo dele mesmo. Achava que eram porcaria. As iniciais do grupo são T.E.". Esses seriam o Teardrop Explodes, a banda mais famosa de Cope e, até a ascensão dos Bunnymen, a esperança mais clara da cena do Eric's para o sucesso nacional e global. Em 1978, Mac e Cope se simpatizavam e na verdade inspiraram um ao outro no auge de suas composições, dividindo músicas originais como "Robert Mitchum" de Cope e "Iggy Pop" de Mac, devorando livros, discos e revistas de música e tocando com Wylie faixas rudimentares de Nuggets ou "I can't get no satisfaction" (cantada em alemão) dos Stones, sob o nome de Crucial Three.
"Era sobre as coisas práticas de ser músicos", diz Wylie a respeito da época. "Mas era também sobre o sonho e a fantasia disso, e daí deixar isso se tornar real". O Crucial Three, enfim, se separou, depois que Cope tocou "The Modern Dance" de Pere Ubu para Mac numa daquelas tardes. De acordo com o livro de memórias de Cope, Mac a desconsiderou de maneira cool. Cope disse que Mac era um plank e usou o incidente como desculpa para se dedicar ao Teardrops. Logo Wylie formaria o Wah!, e antes de acabar o ano, Mac se reuniria com Sergeant e Pattinson. Mas as idéias, letras de músicas e linhas de baixo que o Crucial Three criou se tornaria uma fonte de discórdia por décadas.

Sergeant tinha observado McCulloch perambular pelo Eric's por algum tempo, se perguntando se, como insistia Wylie, ele sabia cantar. "Ele parecia diferente desde o começo", diz Sergeant. "Ele era magricela, com o cabelo de cor diferente, todo tipo de cor, pois ele tingia algumas vezes". Sergeant tinha comprado uma guitarra nova e uma bateria eletrônica recentemente. Inspirado em Kraftwerk e Low, ele passava horas experimentando com feedback, "segurando o barbeador do meu pai sobre a pickup para produzir um zumbido". A dupla finalmente se encontrou numa festa num bar local. "Mac estava sentado ali na dele", diz Sergeant. "Eu fui até ele e disse 'O que você está fazendo?' e ele disse 'Estou esperando pelo presente da visão' ". Essa citação, uma paráfrase do single recente do Bowie Sound & Vision, soou mais cool do que deveria.
"É, eu me lembro vagamente de ter dito isso", diz McCulloch. "Eu achava que eu era um mensageiro liverpudiano da Bowiedade. Eu sabia como era minha aparência e achava que poderia me sair bem nessa. Olhando para trás, eu devia parecer como um milhão de dólares".
Os dois ensaiavam na casa de campo da família de Sergeant. "Eu penava para chegar na casa dele", diz McCulloch das tardes em que arrastava sua guitarra acústica, sem case , por três itinerários de ônibus. "Para mim, era uma missão tão difícil quanto a de Martin Sheen em Apocalypse Now". Eles ligavam a bateria eletrônica e começavam a dedilhar, procurando por som novo perfeitamente esquisito. "Eu queria que minha música viesse do espaço", diz McCullcoh. Nomes de banda foram sugeridos, considerados e descartados: Mona Lisa and the Grease Guns, The Daz Men. Echo & The Bunnymen pegou. Nessa época, Pattinson entrou com o baixo, e a bateria eletrônica foi apelidada de 'Echo', para desfavorecer a idéia de que Mac era 'Echo' e Melling Boys sua banda suporte.

Os Bunnymen fizeram seu primeiro show abrindo para o Teardrop Explodes no Eric's em 15 de novembro de 1978. Eles tocaram uma música, uma versão estendida de "Monkeys", que sairia no primeiro álbum Crocodiles. Embora McCulloch estivesse nervoso e suando, eles passaram no teste de Holy Johnson. Eles eram muito, muito bons. Echo [bateria] expelia batidas metronômicas em estilo Suicide [?], Sergeant soltava/cortava cordas menores, Pattinson tocava rapidamente e funky, como se estivesse ouvindo Chic com fones invisíveis, e Mac cantava poesia neo-psicodélica ('Boys are the same, brains in their pockets...') como um barítono que era mais Tom Jones que Bowie – chocantemente masculino e seguro de si, dada sua aparência jovem e andrógena. Era mesmo música do espaço. "Soava novo, cool e interessante", diz Johnson, antes de acrescentar "Eles se tornaram só mais uma banda de rock quando adquiriram um baterista de verdade".
Logo os scenesters Bill Drummond e David Balfe - do Big in Japan e Dalek, I Love You, respectivamente - estavam emprasariando os Bunnymen, além dos Teardrops. Balfe indicou o baterista Pete de Freitas de 17 anos, nascido em Trinidade, para substituir a bateria Echo. Assim como Cope, De Freitas tinha visto o mundo além de Liverpool, e sua confiança e fonte de referência mais profunda, sem contar seu jeito acelerado de tocar, se encaixaram perfeitamente ao som já em andamento da banda.
Mac dividia um apartamento boêmio e barulhento em Penny Lane com Wylie, entre outros freqüentadores do Eric's, e, reforçado o estímulo, ele e Sergeant começaram a fazer músicas. Drummond e Balfe produziram a primeira gravação dos Bunnymen e a lançaram por conta própria. Em maio de 1979, menos de sete meses depois do primeiro show, o single de estréia, a alucinante "Pictures on My Wall" com seu lado B mordaz "Read it in Books" (creditada a ambos Mac e Cope, ainda que cada um afirme que a escreveu sozinho), foi designado o single da semana pela NME e patrocinado pelo influente DJ John Peel da BBC. "O Peel disse 'Temos mais uma [música] do poderoso Echo & The Bunnymen'", diz McCulloch, "E eu pensei 'Uau, o John Peel gosta da gente, isso é ótimo'. Estávamos um pouco intimidados por Londres, mas tínhamos aquele tipo de presunção. Como se fôssemos a coisa mais cool do mundo". Se havia um profeta do sucesso que os Bunnymen desfrutariam nos EUA, veio na forma de Courtney Love, uma então nômade nos seus 18-19 anos, que se inseriu na cena do Eric's com agressão característica.
"Eu a odiava", diz Wylie. "Ela apareceu porque queria encontrar os Teardrops e os Bunnymen. Ela se achava e ousava ser americana. Ela não era um de nós".

O Teardrop Explodes estava no meio da celebração do recém-assinado contrato quando foram informados pelos empresários que os Bunnymen estavam sendo procurados por Seymour Stein da grande gravadora americana Sire Records. "Os Bunnymen numa grande gravadora?", Cope escreve. "E nós? Foi só o que pensei, e nós?". Disseram ao Cope que Stein foi atraído pela aparência de símbolo sexual de Mac, e os empresários inferiram que o palerma Cope parecia 'lixo' como líder de banda (frontman); possivelmente como uma aposta poderosa para manter as duas bandas na linha. "Bill [Drummond] estava no meio dessa grande, emocionante e poderosa cena independente", sugere Wylie. "E ele tirou duas das ações significantes [?]. Logo se tornou uma cena dividida, e todos começamos a competir entre nós. Sempre fomos competitivos, mas também éramos amigos". Nessa brecha vieram bandas como A Flock of Seagulls, que não conseguiram animar a cena da mesma maneira.

No final dos anos 70, a polícia, agitada com qualquer coisa que se assemelhasse ao punk, vivia fazendo batidas nos clubes da cidade. O Eric's conseguiu evitar que fosse à falência até março de 1980, quando também fechou. Suas maiores estrelas, Big in Japan, Orchestral Manoeuvres in the Dark, Teardrop Explodes, Dead or Alive e os Bunnymen se foram ou mudaram. O Eric's nunca reabriu.
Pode-se dizer que o U2 nunca foi de fato U2 até 1983, com o lançamento de seu terceiro álbum, War, e de sua apresentação sob forte chuva no Red Rocks em Denver em junho daquele ano. Apenas o Joy Division de Manchester rivalizava com os Bunnymen pelo grande carisma e uma exposição musical completamente realizada e incontrolável. Os Bunnymen aproveitavam a onda com o U2 e o Joy Division enquanto faziam turnê para divulgar seus primeiros singles, mas só uma das bandas importava. Diz McCulloch sobre o Joy Division: "Eram eles e nós". Ele conhecia bem a cena de Manchester, tendo brevemente trabalhado como roadie do The Fall. "Eu não via o Joy Division como um concorrente. As duas bandas se complementavam".
Os ábuns Unknown Pleasures e Closer são repletos de determinação, como se Ian Curtis tivesse aceitado a falta de esperança em tudo, ao passo que Crocodiles, lançado na Inglaterra em julho de 1980, dois meses depois do suicídio do cantor, é desafiador. "I can see you've got the blues in your alligator shoes", canta McCulloch na propulsiva faixa-título. "I'm all smiles, I got my crocodiles". Ele facilmente poderia estar cantando sobre aquele outro Ian do norte e vestido de sobretudo. "Só sete anos depois eu pensei 'Se ele não tivesse se matado, a década de 80 teria totalmente diferente", diz McCulloch. Com sua morte, o espírito de competição também se foi. Concorrer com o U2 parecia, de certa forma, inferior aos Bunnymen. Eles observavam insensivelmente enquanto os irlandeses ascendiam.

"Eles sempre iriam ser a maior banda do mundo", diz Mac. "Não queríamos ter nada que ver com o sucesso da forma como o U2 o vê. Não tinha a ver com a conquista do mundo; tinha a ver com aqueles caras, como eu e o Ian Curtis, que gostavam de Silver Surfer e Bowie. Chegou uma hora em que todo mundo almejava aquela coisa de Live Aid de ser visto em todo lugar, em toda porra de rua, em cada merdinha de lugar do mundo. Eu nunca quis isso".
"Eu nunca participei do fã-clube do Bowie", ele continua, "porque eu não queria admitir que havia outro fã do Bowie por aí".

As críticas ao Crocodiles foram muito positivas tanto nos EUA quanto na Inglaterra. "Enquanto o U2 são apenas copiadores", opinava a NME, "Echo & The Bunnymen absorveram e transcenderam suas influências, indo em direção a uma área onde sua música é totalmente de sua própria produção". O álbum estourou nos Top 20 do Reino Unido, e a banda se apresentou em clubes nos EUA, onde Crocodiles foi lançado em dezembro, pouco depois do assassinato de John Lennon, um dos filhos favoritos de sua terra natal.
Os shows do Echo & The Bunnymen juntavam melodrama e emoção, com Mac dançando ao microfone num palco enfeitado com redes de camuflagem. Enfim eles ficariam loucos por gelo seco e cantos gregorianos na abertura. Ironicamente, eles eram uns inúteis como estrelas do vídeo. A estréia da MTV em 1981, simultânea ao lançamento do segundo álbum dos Bunnymen, Heaven Up Here, não prejudicou o sucesso da banda nos EUA, onde eles permaneceram os queridinhos da crítica e superestrelas apenas entre um contingente de colegiais e universitários novatos. "Nunca fomos bons com o vídeo, porque éramos pobres", diz Sergeant. "Eu não gostava muito das câmeras". Heaven Up Here foi um sucesso tão estupendo quanto Crocodiles e aumentou as vendas no Reino Unido, onde chegou ao Top 10.
Enquanto os outros Bunnymen alugavam uma mansão vitoriana de 100 anos, Mac vivia com sua nova esposa e já estava sofrendo a explosão virulenta de uma síndrome de vocalista. "Naquele momento, os Bunnymen já estavam na estrada há três anos, Mac era outra pessoa", diz Wylie. "Ele era tímido, introvertido, arrogante, um pateta monossilábico e virou o filho de Jim Morrison".
"The Back of Love", outro exemplo transcendente da habilitade de Sergeant em transformar os zumbidos cortantes estilo-Velvet Underground em rifes pós-punk dançantes, foi lançado como single em 1982 e deu à banda seu maior hit até então. A Warner Bros, que distribuía o selo Sire, estava a fim de ganhar dinheiro em cima disso. O terceiro ábum, Porcupine, seria o escolhido para estourar, segundo a opinião dos executivos [das gravadoras] nos dois lados do Atlântico. A banda entrou no estúdio Trident em Londres, onde Bowie tinha feito Hunky Dory e The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars. Enquanto Porcupine tinha 'The Cutter', outro hit Top 10, a Warner Bros julgou faixas como 'My White Devil' e 'Heads will roll' muito idiotas e pouco comerciais. Os Bunnymen estavam começando a resistir à tremenda pressão de escrever hits, excursionar e lançar vídeos caros, ainda que tivessem concordado em regravar algumas músicas do álbum e cortar uma versão Discotheque bacana do single não lançado em LP "Never Stop", mas se irritaram o tempo todo.
"Estávamos fazendo discos como Crocodiles, Heaven Up Here e Porcupine", diz McCulloch, "e a gravadora virou e nos acusou, dizendo 'Vocês não querem ser vendidos'. Como pode não vender os três primeiros álbuns dos Bunnymen? Tipo, como pode não vender a Mona Lisa, Sunflowers de Van Gogh e The Garden of Earthly Delights de Hieronymus Bosch?".

Ecoando o romantismo pop de Scott Walker, Lee Hazlewood, Serge Gainsbourg, e até mesmo Burt Bacharach, o material escrito para o álbum seguinte, Ocean Rain, destruiu o presságio de escuridão neo-psicodélica que marcou seus antecessores. No lugar disso, havia espaço para orquestração magistral: cordas, sopros, piano em vez de teclado de garagem. Gravado sobretudo em Paris e lançado na primavera de 1984, o álbum certamente era uma epopéia. As letras e melodia básica da faixa principal "The Killing Moon" vieram em McCulloch da mesma forma que os rifes de "Satisfaction" entraram para Keith Richards - num sonho. "Eu levantei rapidamente da cama", ele conta. "Fui lá pra baixo e trabalhei nela. Foi como se ela tivesse sido dada para mim no meu sono. Foi como intervenção divina". A música,considerada entre as melhores da banda, foi regravada pelo Pavement e Grant-Lee Phillips e apareceu na cena de abertura do filme cult Donnie Darko de 2001.

Os singles dos Bunnymen lançados pela Sire foram compilados numa coletânea de 1985, sob o título caracterizadamente arrogante Songs to Learn & Sing. A banda também gravou uma faixa bônus, a pomposa e viciante balada "Bring on the dancing horses", que apareceu na trilha sonora de "A Garota de Rosa Schocking" de John Hughes. Nessa época, os Bunnymen eram um sonho do supervisor musical Brat Pack [?], o som deles a pontuação ideal para dramas de desafeto juvenil. Depois de um período sabático, eles concordaram em gravar uma versão para o hit de 1967 dos Doors, "People are Strange", para o filme adolscente de vampiros "Garotos Perdidos". Ela tornou-se sua música mais conhecida nos EUA, mas era um cover e desacelerou o ritmo da banda. Em 1986, pouco depois da saída do empresário (Drummond iria formar o alternativo KLF), De Freitas anunciou que estava caindo fora. A banda o substituiu pelo baterista Marc Foz (ex-Haircut One Hundred) nas gravações do álbum de 1987 intitulado Echo & The Bunnymen, também conhecido como "Grey Album", pela falta do dom da visão.
"Sem Pete, era meio estranho", diz Sergeant. "O cara que assumiu era um baterista brilhante. Mas você está numa espécie de fama, sua cabeça muda e você começa a ver as coisas de uma forma esquisita". O álbum, sustentado pelo single "Lips Like Sugar", também vendeu mais do que todos os outros anteriores, e uma turnê com o New Order os viu tocando nas maiores casas dos EUA. Mas apesar da emoção de trabalhar com Ray Manzarek do Doors, num outro hit do disco, "Bedbugs and Ballyhoo", os Bunnymen não estavam satisfeitos com o novo material. "Pensamos 'Vamos lá, vamos fazer o jogo deles um pouco', pois estávamos em desacordo com as gravadoras", diz Sergeant. "Acho que era difícil para nós passarmos para aquela coisa de estádio. Éramos nossos piores inimigos. Era uma grande oportunidade, e pensávamos 'Por favor, vamos dizer alguma coisa para alguém para mandá-los embora". Mac estava saturado em 1988 e anunciou que estava saindo da banda depois da turnê no Japão. Na noite do último show, ele ficou sabendo que seu pai tinha morrido em Liverpool. Sergeant e Pattinson estavam determinados a continuar com a banda, substituindo-o. No ano seguinte, De Freitas foi morto num acidente de moto. Ele tinha 27 anos.

Em 1989, havia bandas mais jovens e apaixonadas vindas do norte - os La's de Liverpool e os Stones Roses e Happy Mondays de Manchester - que se uniram à juventude britânica e milhares de estudantes americanos da mesma forma que os Bunnymen fizeram no começo da década. Ambos McCulloch, que lançou seu disco solo Candleland em 1989, e os Bunnymen, com Reverberation e novo vocalista, pareciam confusos. "Quando Mac saiu, ele achou que podia decolar para onde ele quisesse, e achávamos que podíamos continuar sem ele", diz Sergeant. "Precisávamos de alguém que dissesse 'Espera aí, abram os olhos, é isso o que está rolando'. Mas nunca tivemos ninguém para dizer isso, e éramos, de qualquer forma, tapados demais também para escutar. Tudo tinha vindo tão facilmente que era difícil pensar que as coisas seriam difíceis". McCulloch tocava seu material solo em locais pequenos, enquanto a Warner Bros viu o inevitável fracasso de Reverberation como uma desculpa para despedir a banda depois de uma década.

Humildade não caía bem nem para Mac nem para Sergeant, e em 1994, eles reuniram como Electrafixion - espécie de ponte para o Echo & The Bunnymen 2.0. Em 1997, Pattinson se juntou a eles novamente para o primeiro álbum dos Bunnymen de fato em uma década. Evergreen parecia continuar de onde Ocean Rain tinha parado, colocando um hit disonante, "Nothing Lasts Forever", de volta às paradas britânicas. Desde então, eles vêm gravando, excursionando de vez em quando e, como estilos e modelos de negócios mudam radicalmente, persistindo através de seus cabelos e atitudes originais com a provocação típica.
No ano que vem, a banda lançará The Fountain, seu quinto álbum desde o retorno. "Esse novo álbum vai surpreender as pessoas, todos aqueles que ouviram sobre a gente", diz McCulloch, que insiste que é tão bom quanto o melhor trabalho dos Bunnymen.




"Eles ainda são muito importantes", diz Rab Allan, guitarrista dos escoseses Glasvegas, que abriram o show no Radio City. "Tem muitos artistas daquela época que só excursionavam e não se importavam em fazer nada novo. E o Ian é 100% um rock star. Acho que não tem tanta gente como eles por aí".
Depois de trinta anos, fotos da cena do Eric's são parte de uma herança cultural exposta num museu em Liverpool, e os Bunnymen são considerados os filhos favoritos do rock'n'roll, assim como os Beatles. Em novembro, eles apresentaram Ocean Rain no Echo Arena na sua cidade natal, McCulloch sem dúvida feliz com o nome no lugar. Sergeant está agora morando em Lancashire, Inglaterra, mas Mac nunca deixou a cidade portuária onde nasceu e cresceu. "Eu odiaria não estar lá", diz ele lamentavelmente. "Eu planejo não morrer de jeito nenhum, mas se eu tiver de, quero morrer em Liverpool".



Tradução: Verena Kewitz



Agora uma pequeno comentário meu:
Sendo uma revista americana, os comentários e informações da matéria privilegiam os passos do Echo sobretudo nos EUA, como o sucesso que lá fizeram, onde tocaram, a reação da crítica e do público etc. Acho que não poderia esperar nada muito diferente dos americanos, mas fica aqui minha crítica / observação.