Tradução da matéria da revista SPIN (dezembro de 2008) – Echo & The Bunnymen
OBS: Tradução sem rigor estilístico; segue a seqüência de cada parágrafo do original para melhor acompanhar o texto; a tradução das legendas das fotos será colocada ao final da tradução; a tradução das frases em destaque no original são colocadas de acordo com a diagramação original, sempre que possível; os termos que não têm um equivalente adequado em português, foram mantidos em inglês, com alguma adaptação à estrutura do português: ex. (ingl.) dark > (port.) darks, sempre em itálico; minhas intervenções ou comentários no meio do texto estão entre [ ]. E ainda acrescento notas de rodapé para esclarecer o uso de alguns termos.
Echo & The Bunnymen / De Liverpool com amor
Céu aqui embaixo
Há trinta anos, E&TB ajudou a despontar uma cena de Liverpool em triste declínio desde que os Beatles estouraram, encontrando caras vestidos de preto como U2 e Joy Division, e inspirando Coldplay e Arcade Fire. Enquanto eles se preparam para lançar seu 11º álbum, Marc Spitz dá uma caminhada pelo Merseyside com os darks românticos pós-punks.
Os deuses, sendo deuses, intervieram. O céu de outono sobre o Radio City Music Hall parece como a inusitada capa do álbum: úmido, azul da meia-noite e pouco iluminado pela lua. É o clima perfeito para uma performance orquestral completa de Ocean Rain, obra-prima do E&TB, com 25 anos de idade na próxima primavera e possivelmente os 36 minutos mais românticos do pop noturno já gravado. Há, no entanto, problemas mundanos. Alguns continuam gritando pela música de 1980 "Do it clean". Ian McCulloch, 49 anos, vocalista, antes guitarrista, dono de um cabelo preto espetado por 3 décadas, está perdendo a paciência. "É, Do it clean não está no Ocean Rain", resmunga. McCulloch já deixou claro que ele precisa de um cigarro desesperadamente. Mas ele está proibido de fumar no local.
A banda acabou de tocar um set de grandes hits. Agora, da cintilante canção de abertura "Silver" à faixa que encerra o álbum, McCulloch, há tempos parceiro de Will Sergeant, o jovem quarteto substituindo o baixista fundador Les Pattinson e o baterista Pete de Freitas, e a seção de cordas de 12 músicos amavelmente recriam o álbum como se estivessem restaurando um Da Vinci. Observando McCulloch de óculos escuros e sobretudo da terceira fileira, é difícil perceber sua irritação. Poderia ser o espasmo da nicotina, mas mais provavelmente é que cada nota tocada perfeitamente parece agora servir para lembrá-lo do quão brilhante sua banda foi e quão lendário ele é hoje; e não poderia uma lenda fazer o que quisesse, especialmente quando está entretendo [o público]? Eles negariam um cigarro ao Sinatra, esses yankes? Ou a Lou Reed? A Leonard Cohen? Esta arrogância tem sido o tendão de Aquiles do E&TB desde 1978. Isso por serem uma das melhores bandas britânicas dos últimos 30 anos - certamente o grupo mais importante de Liverpool desde os Beatles - mas também o motivo pelo qual implodiram antes de se tornarem um promessa com os 4 primeiros álbuns, com reconhecida influência em caras como Coldplay e Arcade Fire. É essencialmente por isso que eles não são U2.
Sergeant e Pattinson eram colegas de escola em Melling, na região rural logo além dos limites da cidade. "Se você mora fora de Liverpool, te chamam de Woolyback [ovelha desgarrada] ", diz Sergeant, 49 anos [sic]. "É um termo depreciativo. É como um sheep-shagger ou algo do tipo". Enquanto não eram próximos, seus caminhos do campo para a cidade eram similares. Na adolescência, ambos se aventuravam para a cidade de ônibus para comprar discos. Sergeant conseguiu uma guitarra Höfner com 13 anos, mas raramente a tocava. Ele estava convencido de que nunca teria esperança de chegar aos pés de seus então-heróis Jimmy Page e Steve Howe (Yes). "Nós tínhamos esse tipo de imagem elevada dos músicos", ele diz. "Você tinha de ser treinado e tecnicamente brilhante. Eu não sabia nem o que era um tempo de abertura".
A sombra dos Beatles, rompida apenas seis anos em 1976, refletiu larga e longamente e intimidou muitos futuros músicos de Liverpool. Mas aquele ano, um show dos Sex Pistols no Eric's em outubro, um porão úmido na Matthew Street (que, ironicamente, tinha sido o local original do Cavern Club que aproximou os Beatles da popularidade), destruiu a idéia de que o rock era exclusivo para virtuosos, e logo bandas adolescentes como os Spitfire Boys se declaravam igualmente válidos. "Os Beatles não tinham na verdade aquela sombra sobre o punk", diz Sergeant. "Lembre-se, Glen Matlock dos Pistols disse que ele gostava dos Beatles e todos ficaram chocados".
"O Eric's em si era um porão", diz Pete Wylie da banda pós-punk soul Wah! (também conhecida como Wah! Heat, The Mighty Wah! e outros), que estava presente naquela noite. "Você descia duas escadas de metal para dentro de uma sala vermelha e preta. E fedia porque é perto do rio, e sistema de esgoto é uma merda, e freqüentemente os banheiros entupiam e inundavam a casa". Quase da noite para o dia, na ligação entre o Eric's, as salas de chá Armadillo e o pub Grapes, uma dúzia de bandas eram criadas e lançadas, muitas das quais deviam suas próprias experiências às calorosas discussões de como deveria ser uma banda. "Todo mundo ficava discutindo", escreve Julian Cope em sua memória Head-On de 1994, "tentando descobrir pelo que você se interessava, ou pelo que não deveria se interessar, em quem poderia confiar, e quem estava dizendo coisas apenas por aparência". A chegada de um grande lançamento na loja de discos Probe, fosse o Marquee Moon do Television ou Low do David Bowie, ou a descoberta de um single Motown antigo, era como poluentes no abastecimento de água.
"Muita atitude", fala Holly Johnson, então do Big in Japan e mais tarde vocalista do Frankie Goes to Hollywood, sobre a sensação do Eric's. "Havia muitos egos ali". Quando bandas de Londres (Clash, Stranglers, Generation X) e mesmo dos EUA (Blondie, Devo) tocavam no Eric's, a cena em Liverpool (a 175 milhas ao norte da capital, no condado de Merseyside) estava determinada a evitar a depender do estímulo exterior além das importações da Probe. "Não éramos contemporâneos a essas pessoas", diz Johnson, "e não estávamos lá para idolatrá-las porque moravam em Londres e tinham seus rostos no New Musical Express. Eles tinham de ser bons para receber uma resposta/reação".
"Bom" era raramente bom o suficiente para Ian McCulloch.
McCulloch, de classe operária, 1,82m de altura, pálido, quieto e pensativo, com rosto de sereia e um tipo de boca malcriada que dizia que ingênuas compram no sul da California , passava muitos de seus dias de escola lendo a HQ Silver Surfer (Surfista Prateado) e fazendo desenhos de David Bowie. "O rosto de Bowie, mas com meus lábios nele", esclarece. "Tudo que eu sempre quis, desde os 13 anos, era ser o melhor cantor da melhor banda do mundo".
Se McCulloch era naturalmente uma estrela, Julian Cope, dois anos mais velho, de classe média e galês, era um acadêmico igualmente em potencial. Ele apareceu na cena quando freqüentava a faculdade City of Liverpool e não falava com sotaque de Liverpool; mas seu conhecimento sobre história do pop e fervor pelo punk logo fizeram dele um membro. Cope se recusou a ser entrevistado nesta edição, e McCulloch apenas diz "Tem um certo grupo, uma certa pessoa de quem não quero falar. Ele é um ladrão, e sempre detestei o grupo dele mesmo. Achava que eram porcaria. As iniciais do grupo são T.E.". Esses seriam o Teardrop Explodes, a banda mais famosa de Cope e, até a ascensão dos Bunnymen, a esperança mais clara da cena do Eric's para o sucesso nacional e global. Em 1978, Mac e Cope se simpatizavam e na verdade inspiraram um ao outro no auge de suas composições, dividindo músicas originais como "Robert Mitchum" de Cope e "Iggy Pop" de Mac, devorando livros, discos e revistas de música e tocando com Wylie faixas rudimentares de Nuggets ou "I can't get no satisfaction" (cantada em alemão) dos Stones, sob o nome de Crucial Three.
"Era sobre as coisas práticas de ser músicos", diz Wylie a respeito da época. "Mas era também sobre o sonho e a fantasia disso, e daí deixar isso se tornar real". O Crucial Three, enfim, se separou, depois que Cope tocou "The Modern Dance" de Pere Ubu para Mac numa daquelas tardes. De acordo com o livro de memórias de Cope, Mac a desconsiderou de maneira cool. Cope disse que Mac era um plank e usou o incidente como desculpa para se dedicar ao Teardrops. Logo Wylie formaria o Wah!, e antes de acabar o ano, Mac se reuniria com Sergeant e Pattinson. Mas as idéias, letras de músicas e linhas de baixo que o Crucial Three criou se tornaria uma fonte de discórdia por décadas.
Sergeant tinha observado McCulloch perambular pelo Eric's por algum tempo, se perguntando se, como insistia Wylie, ele sabia cantar. "Ele parecia diferente desde o começo", diz Sergeant. "Ele era magricela, com o cabelo de cor diferente, todo tipo de cor, pois ele tingia algumas vezes". Sergeant tinha comprado uma guitarra nova e uma bateria eletrônica recentemente. Inspirado em Kraftwerk e Low, ele passava horas experimentando com feedback, "segurando o barbeador do meu pai sobre a pickup para produzir um zumbido". A dupla finalmente se encontrou numa festa num bar local. "Mac estava sentado ali na dele", diz Sergeant. "Eu fui até ele e disse 'O que você está fazendo?' e ele disse 'Estou esperando pelo presente da visão' ". Essa citação, uma paráfrase do single recente do Bowie Sound & Vision, soou mais cool do que deveria.
"É, eu me lembro vagamente de ter dito isso", diz McCulloch. "Eu achava que eu era um mensageiro liverpudiano da Bowiedade. Eu sabia como era minha aparência e achava que poderia me sair bem nessa. Olhando para trás, eu devia parecer como um milhão de dólares".
Os dois ensaiavam na casa de campo da família de Sergeant. "Eu penava para chegar na casa dele", diz McCulloch das tardes em que arrastava sua guitarra acústica, sem case , por três itinerários de ônibus. "Para mim, era uma missão tão difícil quanto a de Martin Sheen em Apocalypse Now". Eles ligavam a bateria eletrônica e começavam a dedilhar, procurando por som novo perfeitamente esquisito. "Eu queria que minha música viesse do espaço", diz McCullcoh. Nomes de banda foram sugeridos, considerados e descartados: Mona Lisa and the Grease Guns, The Daz Men. Echo & The Bunnymen pegou. Nessa época, Pattinson entrou com o baixo, e a bateria eletrônica foi apelidada de 'Echo', para desfavorecer a idéia de que Mac era 'Echo' e Melling Boys sua banda suporte.
Os Bunnymen fizeram seu primeiro show abrindo para o Teardrop Explodes no Eric's em 15 de novembro de 1978. Eles tocaram uma música, uma versão estendida de "Monkeys", que sairia no primeiro álbum Crocodiles. Embora McCulloch estivesse nervoso e suando, eles passaram no teste de Holy Johnson. Eles eram muito, muito bons. Echo [bateria] expelia batidas metronômicas em estilo Suicide [?], Sergeant soltava/cortava cordas menores, Pattinson tocava rapidamente e funky, como se estivesse ouvindo Chic com fones invisíveis, e Mac cantava poesia neo-psicodélica ('Boys are the same, brains in their pockets...') como um barítono que era mais Tom Jones que Bowie – chocantemente masculino e seguro de si, dada sua aparência jovem e andrógena. Era mesmo música do espaço. "Soava novo, cool e interessante", diz Johnson, antes de acrescentar "Eles se tornaram só mais uma banda de rock quando adquiriram um baterista de verdade".
Logo os scenesters Bill Drummond e David Balfe - do Big in Japan e Dalek, I Love You, respectivamente - estavam emprasariando os Bunnymen, além dos Teardrops. Balfe indicou o baterista Pete de Freitas de 17 anos, nascido em Trinidade, para substituir a bateria Echo. Assim como Cope, De Freitas tinha visto o mundo além de Liverpool, e sua confiança e fonte de referência mais profunda, sem contar seu jeito acelerado de tocar, se encaixaram perfeitamente ao som já em andamento da banda.
Mac dividia um apartamento boêmio e barulhento em Penny Lane com Wylie, entre outros freqüentadores do Eric's, e, reforçado o estímulo, ele e Sergeant começaram a fazer músicas. Drummond e Balfe produziram a primeira gravação dos Bunnymen e a lançaram por conta própria. Em maio de 1979, menos de sete meses depois do primeiro show, o single de estréia, a alucinante "Pictures on My Wall" com seu lado B mordaz "Read it in Books" (creditada a ambos Mac e Cope, ainda que cada um afirme que a escreveu sozinho), foi designado o single da semana pela NME e patrocinado pelo influente DJ John Peel da BBC. "O Peel disse 'Temos mais uma [música] do poderoso Echo & The Bunnymen'", diz McCulloch, "E eu pensei 'Uau, o John Peel gosta da gente, isso é ótimo'. Estávamos um pouco intimidados por Londres, mas tínhamos aquele tipo de presunção. Como se fôssemos a coisa mais cool do mundo". Se havia um profeta do sucesso que os Bunnymen desfrutariam nos EUA, veio na forma de Courtney Love, uma então nômade nos seus 18-19 anos, que se inseriu na cena do Eric's com agressão característica.
"Eu a odiava", diz Wylie. "Ela apareceu porque queria encontrar os Teardrops e os Bunnymen. Ela se achava e ousava ser americana. Ela não era um de nós".
O Teardrop Explodes estava no meio da celebração do recém-assinado contrato quando foram informados pelos empresários que os Bunnymen estavam sendo procurados por Seymour Stein da grande gravadora americana Sire Records. "Os Bunnymen numa grande gravadora?", Cope escreve. "E nós? Foi só o que pensei, e nós?". Disseram ao Cope que Stein foi atraído pela aparência de símbolo sexual de Mac, e os empresários inferiram que o palerma Cope parecia 'lixo' como líder de banda (frontman); possivelmente como uma aposta poderosa para manter as duas bandas na linha. "Bill [Drummond] estava no meio dessa grande, emocionante e poderosa cena independente", sugere Wylie. "E ele tirou duas das ações significantes [?]. Logo se tornou uma cena dividida, e todos começamos a competir entre nós. Sempre fomos competitivos, mas também éramos amigos". Nessa brecha vieram bandas como A Flock of Seagulls, que não conseguiram animar a cena da mesma maneira.
No final dos anos 70, a polícia, agitada com qualquer coisa que se assemelhasse ao punk, vivia fazendo batidas nos clubes da cidade. O Eric's conseguiu evitar que fosse à falência até março de 1980, quando também fechou. Suas maiores estrelas, Big in Japan, Orchestral Manoeuvres in the Dark, Teardrop Explodes, Dead or Alive e os Bunnymen se foram ou mudaram. O Eric's nunca reabriu.
Pode-se dizer que o U2 nunca foi de fato U2 até 1983, com o lançamento de seu terceiro álbum, War, e de sua apresentação sob forte chuva no Red Rocks em Denver em junho daquele ano. Apenas o Joy Division de Manchester rivalizava com os Bunnymen pelo grande carisma e uma exposição musical completamente realizada e incontrolável. Os Bunnymen aproveitavam a onda com o U2 e o Joy Division enquanto faziam turnê para divulgar seus primeiros singles, mas só uma das bandas importava. Diz McCulloch sobre o Joy Division: "Eram eles e nós". Ele conhecia bem a cena de Manchester, tendo brevemente trabalhado como roadie do The Fall. "Eu não via o Joy Division como um concorrente. As duas bandas se complementavam".
Os ábuns Unknown Pleasures e Closer são repletos de determinação, como se Ian Curtis tivesse aceitado a falta de esperança em tudo, ao passo que Crocodiles, lançado na Inglaterra em julho de 1980, dois meses depois do suicídio do cantor, é desafiador. "I can see you've got the blues in your alligator shoes", canta McCulloch na propulsiva faixa-título. "I'm all smiles, I got my crocodiles". Ele facilmente poderia estar cantando sobre aquele outro Ian do norte e vestido de sobretudo. "Só sete anos depois eu pensei 'Se ele não tivesse se matado, a década de 80 teria totalmente diferente", diz McCulloch. Com sua morte, o espírito de competição também se foi. Concorrer com o U2 parecia, de certa forma, inferior aos Bunnymen. Eles observavam insensivelmente enquanto os irlandeses ascendiam.
"Eles sempre iriam ser a maior banda do mundo", diz Mac. "Não queríamos ter nada que ver com o sucesso da forma como o U2 o vê. Não tinha a ver com a conquista do mundo; tinha a ver com aqueles caras, como eu e o Ian Curtis, que gostavam de Silver Surfer e Bowie. Chegou uma hora em que todo mundo almejava aquela coisa de Live Aid de ser visto em todo lugar, em toda porra de rua, em cada merdinha de lugar do mundo. Eu nunca quis isso".
"Eu nunca participei do fã-clube do Bowie", ele continua, "porque eu não queria admitir que havia outro fã do Bowie por aí".
As críticas ao Crocodiles foram muito positivas tanto nos EUA quanto na Inglaterra. "Enquanto o U2 são apenas copiadores", opinava a NME, "Echo & The Bunnymen absorveram e transcenderam suas influências, indo em direção a uma área onde sua música é totalmente de sua própria produção". O álbum estourou nos Top 20 do Reino Unido, e a banda se apresentou em clubes nos EUA, onde Crocodiles foi lançado em dezembro, pouco depois do assassinato de John Lennon, um dos filhos favoritos de sua terra natal.
Os shows do Echo & The Bunnymen juntavam melodrama e emoção, com Mac dançando ao microfone num palco enfeitado com redes de camuflagem. Enfim eles ficariam loucos por gelo seco e cantos gregorianos na abertura. Ironicamente, eles eram uns inúteis como estrelas do vídeo. A estréia da MTV em 1981, simultânea ao lançamento do segundo álbum dos Bunnymen, Heaven Up Here, não prejudicou o sucesso da banda nos EUA, onde eles permaneceram os queridinhos da crítica e superestrelas apenas entre um contingente de colegiais e universitários novatos. "Nunca fomos bons com o vídeo, porque éramos pobres", diz Sergeant. "Eu não gostava muito das câmeras". Heaven Up Here foi um sucesso tão estupendo quanto Crocodiles e aumentou as vendas no Reino Unido, onde chegou ao Top 10.
Enquanto os outros Bunnymen alugavam uma mansão vitoriana de 100 anos, Mac vivia com sua nova esposa e já estava sofrendo a explosão virulenta de uma síndrome de vocalista. "Naquele momento, os Bunnymen já estavam na estrada há três anos, Mac era outra pessoa", diz Wylie. "Ele era tímido, introvertido, arrogante, um pateta monossilábico e virou o filho de Jim Morrison".
"The Back of Love", outro exemplo transcendente da habilitade de Sergeant em transformar os zumbidos cortantes estilo-Velvet Underground em rifes pós-punk dançantes, foi lançado como single em 1982 e deu à banda seu maior hit até então. A Warner Bros, que distribuía o selo Sire, estava a fim de ganhar dinheiro em cima disso. O terceiro ábum, Porcupine, seria o escolhido para estourar, segundo a opinião dos executivos [das gravadoras] nos dois lados do Atlântico. A banda entrou no estúdio Trident em Londres, onde Bowie tinha feito Hunky Dory e The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars. Enquanto Porcupine tinha 'The Cutter', outro hit Top 10, a Warner Bros julgou faixas como 'My White Devil' e 'Heads will roll' muito idiotas e pouco comerciais. Os Bunnymen estavam começando a resistir à tremenda pressão de escrever hits, excursionar e lançar vídeos caros, ainda que tivessem concordado em regravar algumas músicas do álbum e cortar uma versão Discotheque bacana do single não lançado em LP "Never Stop", mas se irritaram o tempo todo.
"Estávamos fazendo discos como Crocodiles, Heaven Up Here e Porcupine", diz McCulloch, "e a gravadora virou e nos acusou, dizendo 'Vocês não querem ser vendidos'. Como pode não vender os três primeiros álbuns dos Bunnymen? Tipo, como pode não vender a Mona Lisa, Sunflowers de Van Gogh e The Garden of Earthly Delights de Hieronymus Bosch?".
Ecoando o romantismo pop de Scott Walker, Lee Hazlewood, Serge Gainsbourg, e até mesmo Burt Bacharach, o material escrito para o álbum seguinte, Ocean Rain, destruiu o presságio de escuridão neo-psicodélica que marcou seus antecessores. No lugar disso, havia espaço para orquestração magistral: cordas, sopros, piano em vez de teclado de garagem. Gravado sobretudo em Paris e lançado na primavera de 1984, o álbum certamente era uma epopéia. As letras e melodia básica da faixa principal "The Killing Moon" vieram em McCulloch da mesma forma que os rifes de "Satisfaction" entraram para Keith Richards - num sonho. "Eu levantei rapidamente da cama", ele conta. "Fui lá pra baixo e trabalhei nela. Foi como se ela tivesse sido dada para mim no meu sono. Foi como intervenção divina". A música,considerada entre as melhores da banda, foi regravada pelo Pavement e Grant-Lee Phillips e apareceu na cena de abertura do filme cult Donnie Darko de 2001.
Os singles dos Bunnymen lançados pela Sire foram compilados numa coletânea de 1985, sob o título caracterizadamente arrogante Songs to Learn & Sing. A banda também gravou uma faixa bônus, a pomposa e viciante balada "Bring on the dancing horses", que apareceu na trilha sonora de "A Garota de Rosa Schocking" de John Hughes. Nessa época, os Bunnymen eram um sonho do supervisor musical Brat Pack [?], o som deles a pontuação ideal para dramas de desafeto juvenil. Depois de um período sabático, eles concordaram em gravar uma versão para o hit de 1967 dos Doors, "People are Strange", para o filme adolscente de vampiros "Garotos Perdidos". Ela tornou-se sua música mais conhecida nos EUA, mas era um cover e desacelerou o ritmo da banda. Em 1986, pouco depois da saída do empresário (Drummond iria formar o alternativo KLF), De Freitas anunciou que estava caindo fora. A banda o substituiu pelo baterista Marc Foz (ex-Haircut One Hundred) nas gravações do álbum de 1987 intitulado Echo & The Bunnymen, também conhecido como "Grey Album", pela falta do dom da visão.
"Sem Pete, era meio estranho", diz Sergeant. "O cara que assumiu era um baterista brilhante. Mas você está numa espécie de fama, sua cabeça muda e você começa a ver as coisas de uma forma esquisita". O álbum, sustentado pelo single "Lips Like Sugar", também vendeu mais do que todos os outros anteriores, e uma turnê com o New Order os viu tocando nas maiores casas dos EUA. Mas apesar da emoção de trabalhar com Ray Manzarek do Doors, num outro hit do disco, "Bedbugs and Ballyhoo", os Bunnymen não estavam satisfeitos com o novo material. "Pensamos 'Vamos lá, vamos fazer o jogo deles um pouco', pois estávamos em desacordo com as gravadoras", diz Sergeant. "Acho que era difícil para nós passarmos para aquela coisa de estádio. Éramos nossos piores inimigos. Era uma grande oportunidade, e pensávamos 'Por favor, vamos dizer alguma coisa para alguém para mandá-los embora". Mac estava saturado em 1988 e anunciou que estava saindo da banda depois da turnê no Japão. Na noite do último show, ele ficou sabendo que seu pai tinha morrido em Liverpool. Sergeant e Pattinson estavam determinados a continuar com a banda, substituindo-o. No ano seguinte, De Freitas foi morto num acidente de moto. Ele tinha 27 anos.
Em 1989, havia bandas mais jovens e apaixonadas vindas do norte - os La's de Liverpool e os Stones Roses e Happy Mondays de Manchester - que se uniram à juventude britânica e milhares de estudantes americanos da mesma forma que os Bunnymen fizeram no começo da década. Ambos McCulloch, que lançou seu disco solo Candleland em 1989, e os Bunnymen, com Reverberation e novo vocalista, pareciam confusos. "Quando Mac saiu, ele achou que podia decolar para onde ele quisesse, e achávamos que podíamos continuar sem ele", diz Sergeant. "Precisávamos de alguém que dissesse 'Espera aí, abram os olhos, é isso o que está rolando'. Mas nunca tivemos ninguém para dizer isso, e éramos, de qualquer forma, tapados demais também para escutar. Tudo tinha vindo tão facilmente que era difícil pensar que as coisas seriam difíceis". McCulloch tocava seu material solo em locais pequenos, enquanto a Warner Bros viu o inevitável fracasso de Reverberation como uma desculpa para despedir a banda depois de uma década.
Humildade não caía bem nem para Mac nem para Sergeant, e em 1994, eles reuniram como Electrafixion - espécie de ponte para o Echo & The Bunnymen 2.0. Em 1997, Pattinson se juntou a eles novamente para o primeiro álbum dos Bunnymen de fato em uma década. Evergreen parecia continuar de onde Ocean Rain tinha parado, colocando um hit disonante, "Nothing Lasts Forever", de volta às paradas britânicas. Desde então, eles vêm gravando, excursionando de vez em quando e, como estilos e modelos de negócios mudam radicalmente, persistindo através de seus cabelos e atitudes originais com a provocação típica.
No ano que vem, a banda lançará The Fountain, seu quinto álbum desde o retorno. "Esse novo álbum vai surpreender as pessoas, todos aqueles que ouviram sobre a gente", diz McCulloch, que insiste que é tão bom quanto o melhor trabalho dos Bunnymen.
"Eles ainda são muito importantes", diz Rab Allan, guitarrista dos escoseses Glasvegas, que abriram o show no Radio City. "Tem muitos artistas daquela época que só excursionavam e não se importavam em fazer nada novo. E o Ian é 100% um rock star. Acho que não tem tanta gente como eles por aí".
Depois de trinta anos, fotos da cena do Eric's são parte de uma herança cultural exposta num museu em Liverpool, e os Bunnymen são considerados os filhos favoritos do rock'n'roll, assim como os Beatles. Em novembro, eles apresentaram Ocean Rain no Echo Arena na sua cidade natal, McCulloch sem dúvida feliz com o nome no lugar. Sergeant está agora morando em Lancashire, Inglaterra, mas Mac nunca deixou a cidade portuária onde nasceu e cresceu. "Eu odiaria não estar lá", diz ele lamentavelmente. "Eu planejo não morrer de jeito nenhum, mas se eu tiver de, quero morrer em Liverpool".
Tradução: Verena Kewitz
Agora uma pequeno comentário meu:
Sendo uma revista americana, os comentários e informações da matéria privilegiam os passos do Echo sobretudo nos EUA, como o sucesso que lá fizeram, onde tocaram, a reação da crítica e do público etc. Acho que não poderia esperar nada muito diferente dos americanos, mas fica aqui minha crítica / observação.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Echo & The Bunnymen / De Liverpool com amor
Postado por Mrlips às 08:49 9 comentários
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