Entrevista com Ian McCulloch – Partes 1 e 2
Fonte: http://www.rockfeedback.com/feature/1224/echo-the-bunnymens-ian-mcculloch-interview-october-2009-part-1/
Por: Bronya Francis
Tradução: Verena Kewitz
Revisão: Katy Mary
OBS: Foram mantidos os sinais de interferência do editor da entrevista [ ]. Procurou-se traduzir e manter o tom informal de Ian McCulloch, como pausas, hesitações e digressões.
Imagine isso: você é uma garota de 18 anos, num táxi a caminho de entrevistar um dos mais reconhecidos rockstars britânicos, especificamente Ian McCulloch do Echo & The Bunnymen. Você sai do táxi assim que chega num grande Kensington Hotel, auxiliada por um porteiro, pronto para amparar sua queda se você for desastrada o suficiente para se desequilibrar. Sei que sou uma dessas pessoas, mas felizmente meu corpo se equilibra, ao contrário de seu estado palerma. Você entra numa das salas de jantar, repleta de homens de meia idade parecendo importantes, vestidos inteligentemente de terno feito à mão, e de mulheres elegantes insinuantemente trajando tons escuros de azul, marrom-chocolate, cinza-azulado e cores afins, dos pés à cabeça. O teto é ornamentado com vários motivos imitação da era vitoriana, e você vê uma estátua branca grega colocada compreensivelmente em cantos escuros. Numa pequena parte desse restaurante está sentado o Relações Públicas de Ian McCulloch e alguns jornalistas conhecidos bebericando chá, acompanhado de todo tipo de biscoitos esnobes. Você se dirige ao RP, se sentindo bem inadequada, sem ter frequentado nem mesmo um ano de faculdade, comparada ao restante das pessoas ali, a maioria das quais muito provavelmente com bons salários, freqüentadores da Liberty e morando em lindos condomínios que têm W1 no código postal.
Através de toda essa ansiosa opulência, você escuta risadas virem de uma grande poltrona, acompanhadas de um sotaque rústico de Liverpool. E é então que você consegue ver Mac, como é conhecido, vestindo jeans escuros rasgados (seus joelhos pálidos, pretuberantemente magros visivelmente brotando pelos buracos compridos e esfarrapados das calças), um moleton preto com capuz (com o zíper fechado até a clavícula), os óculos escuros obrigatórios (semi-opacos, provocando quem quer que fale com ele ao revelar apenas o contorno embaçado de seus olhos), tudo isso coberto por um penteado fino espetado (tingido de um preto impiedoso).
Ele foi a aparência de qualquer rock star típico, ainda que o calor daquele cara você verá no pub toda quarta-feira, você sabe, aquele pub que tem Sky Sports e uma TV tela grande. Digo isso porque ele ama futebol (torcedor do Liverpool), então perguntei a ele como foi o jogo em casa ontem à noite e recebi uma resposta lamentando o quão chato foi: "Sabe quando seu time joga contra um lixo, e os pés deles ficam preguiçosos, porque sabem que vão ganhar?". Não, na verdade, não sei, porque em matéria de futebol sou uma negação. Finalmente, domino a conversa ao que nós, pelo menos eu, viemos, antes que ele comece a falar sobre a jogada de impedimento que, sinceramente, me colocaria em apuros.
RFB: Echo and The Bunnymen estão na estrada por mais de trinta anos já...
IM: É verdade, pois nosso primeiro show foi em 1978... uau! E eu só tenho 26 anos!
RFB: O que mudou?
IM: Não muita coisa, pra ser sincero. Acho que as letras mudam, as melodias são diferentes, é um processo contínuo... o estilo de composição, é meu diário, é minha arte auto-expressiva. Ainda estou rascunhando, e de vez em quando você consegue uma página que é uma grande obra de arte...
RFB: Então é você totalmente expresso na música?
IM: É. Através da música eu tento manter meu orgulho e auto-estima, minha ambição e meu romantismo, minha auto-desconfiança, culpa, tudo numa coisa só.
RFB: Você fica cansado depois de 30 anos fazendo turnê?
IM: Agora fico sim. Eu dizia que adorava sair em turnê, mas não era bem isso. Adorava tocar ao vivo... Eu disse sim para os empresários que não quero ficar viajando por aí, não gosto de ficar em ônibus de turnê, andando por aí com outros doze caras, dividindo o banheiro, viajando à noite... Não consigo dormir até o ônibus parar, porque fico claustrofóbico; por isso, eu dormia na recepção e esperava que todos fossem para a cama, já que sou geralmente o último a pegar no sono... Não me importo de viajar, pois é parte do negócio. Prefiro [que os shows sejam] mais espaçados, sabe, vamos fazer quatro shows no Reino Unido no mês que vem, daí vamos para os EUA para quatro shows... então voltamos e fazemos mais shows em dezembro... Às vezes não fico ansioso pelos shows e só faço palavra-cruzada nos bastidores! Gosto quando já estou na cidade um dia antes... Sempre fui assim, mas acho que, quando você tem 21 anos, você adquire uma outra energia além da sua, seja o que for que estiver comprando, energia num pacote... [mas tocar ao vivo], parece sempre a primeira vez e ainda me empolga agora que vamos para São Francisco tocar Ocean Rain no mês que vem, e isso meio que me causou ansiedade de novo pela coisa ao vivo. Certa noite pensei, é isso aí, quero fazer Ocean Rain.
RFB: Você tem tempo livre para conhecer os países em que toca?
IM: Não sou bem o tipo que fica passeando. Nova York, [por exemplo], não importa que prédio é, se é o Empire State ou apenas algum que diga 'Johnny´s bar' na fachada, não importa. [Nova York] tem um clima que é totalmente único; é maravilhoso, toda aquela fumaça e todos aqueles sons, é como uma grande fábrica, mas tem sons de que você gosta e que duram a noite toda. E o mesmo em Liverpool... Se fosse 100% atraente, não seria Liverpool.
RFB: Qual é o seu lugar preferido para tocar?
IM: Nova York é um deles. Fico nervoso em Liverpool, não importa o quão seguro eu possa parecer, pois sei que sou parte deles, sabe? Adoro tocar em Londres também. Quando tocamos no [Royal Albert Hall] no ano passado foi tão emocionante! O Albert Hall foi sempre um prazer, porque fomos a banda que fez a grande descoberta que permitiu outras bandas tocassem lá, quando fizemos duas noites em 1983... cadeiras quebraram... depois que tocamos lá, eles deixaram outras bandas entrarem.
RFB: A reação do público difere de cidade para cidade?
IM: Liverpool é diferente, porque conheço muita gente que está ali, e quero que Liverpool saiba que este é seu filho, algo assim... quem quer que venha nos ver, 80% [do público] terá nos visto antes, e eles têm nos assistido ao longo dos anos, então não é como tocar para um público diferente a cada vez, eles têm nos acompanhado desde o começo... Tocamos nossas músicas, e eles adoram. [Se] você é reconhecido e tem músicas clássicas, são coisas que determinam o público que estará lá. Em festivais, [atraímos] nosso próprio público, e é estranho; levou muito tempo para chegarmos nesse estágio, porque eu não aceitei fazer isso por muito tempo.
RFB: Vocês adquirem muitos novos e jovens fãs ao tocar em festivais?
IM: É, foi isso que aconteceu. Acho que foi quando tocamos no V Festival, ano passado, e fomos em frente, e eu olhava para a plateia e pensava 'essas pessoas parecem muito jovens!´ E eles todos cantavam as músicas, não conseguia entender, adorei... Era como a primeira vez que eles nos assistiam, mas estavam todos cantando as músicas que eu me esforçava para lembrar. E foi assim por todo o show – geralmente acontece com ´The Killing Moon´ ou ´Nothing Lasts Forever´, mas não em músicas como ´Rescue´, sabe, os fãs sempre cantam o refrão e tal, mas isso é estranho. E pensei: ´alguma coisa aconteceu´. Sabe o que eu acho? Acho que chegamos no ponto agora em que as pessoas gostam de nós em todo os lugares e sabem que fazemos grandes músicas. O que sempre quisemos ser foi algo como The Velvet Underground. Tinha que ver com ser a maior coisa do mundo, ser uma dentre as bandas de sua coleção.
RFB: Seria difícil não deixar essa percepção influenciar você...
IM: Acho que estou mais sociável com as pessoas nas conversas. Estou mais... Não sei se tenho mais humildade, mas tento deixar claro que só quero me divertir e ser legal. Isso não deveria afetar o que você pensa a respeito das músicas; continuam sendo músicas sérias, mas se quero fazer uma piada fora disso, é o que eu faço, sabe? Me sinto mais relaxado em mim mesmo, e ainda sou muito insolente, mas... por não precisar ser admirado ou amado ou comprado ou tocado, parece ter ajudado.
RFB: O fato de estar mais confortável com você mesmo reflete na sua composição?
IM: Com o novo álbum acho que reencontramos meu sarcasmo insolente e enigmático, que veio de repente. Mas você não pode sentar e dizer ´quero escrever uma música como fiz em Crocodiles´. Me peguei dando umas cutucadas sugestivas e camaradas nos dias em que me senti como um cara sarcástico/insolente/atrevido... ´The Idolness of Gods´, no fim do disco, é sobre tudo. Uma vez disse que ´The Killing Moon´, bem, eu sempre digo, que é a melhor música que já fizemos, e agora eu sei por que, é porque não é apenas uma música – é sobre tudo, é como um quebra-cabeça – ´The Killing Moon´ pode ser construída de qualquer forma, porque é sobre tudo de algum ângulo. Eu sabia quando a escrevi que era sobre tudo, e eu me esqueci, e só recentemente que lembrei. Sempre adorei cantá-la, e pensando nessa música... ´The Killing Moon´: o título em si é o melhor título de música de todos os tempos. E ´The Idolness of Gods', quando comecei a escrevê-la, foram fragmentos de pensamentos e ritmos...
RFB: Tem um verso em 'Proxy', do novo álbum, que diz “Everybody look at us now” ("Todos agora olhem para nós"). Qual é a mensagem que você está tentando passar nessa música?
IM: Bem, quer dizer que estou falando com jornalistas ou qualquer um que seja um possível Anti-Bunnymen . Minha frase favorita é "I love it when you say you’re better than me,/ Like you know you’re as clever as me" ("Adora quando você diz que é melhor do que eu / Como vccê sabe que é tão esperto quanto eu"). Muita gente lida com pessoas espertas ao chamá-las de outra coisa, em vez de apenas dizer "você é mais esperto que eu", tentando chegar a elas com crítica de qualquer maneira, especialmente com alguém como eu. Sei que existem certos jornalistas por aí que, se eu escrevesse o equivalente musical da Mosa Lisa, eles cairiam matando em cima, criticariam fortemente, porque, por qualquer razão, enfiam na cabeça que não gostam de mim.
RFB: O jornalismo musical mudou muito ao longo da sua carreira?
IM: Os jornalistas escreviam artigos, coisas apropriadas, em que se podia descobrir algo de que você não sabia, não apenas coisas super críticas de um parágrafo inteiro... Talvez eu devesse fazer uma revista, tentar achar alguns grandes autores...
RFB: É isso que Jon McClure está fazendo, talvez você devesse entrar em contato com ele...
IM: Não! Ele pode entrar em contato comigo!
RFB: Tenho certeza de que ele adoraria... então, como foi trabalhar com Johnny Marr?
IM: É, foi bom. Escrevemos algumas coisas muito boas, sim. Mas decidimos tipo arquivá-las... mas ele é ótimo. O que adorei, além das músicas, foi que tivemos muitos momentos divertidos também, chorávamos de tanto rir... contando piadas, morríamos de rir até chorar. Posso vê-lo agora enxugando as lágrimas, e eu fazendo o mesmo – era hilário.
RFB: Facilita se você tem um bom relacionamento com as pessoas com quem trabalha?
IM: Às vezes pode ser uma relação estranha. Eu e Will somos tão próximos, às vezes nem nós mesmos notamos isso. Há um elo verdadeiro entre mim e Will, e damos muita risada. Mas foi diferente comigo e Johnny ( Nota : ex- guitarrista do The Smiths)** – foi apenas como um projeto, mesmo, para nós dois – e acho que ele me ajudou a ganhar confiança, porque ele dizia "Meu Deus, sua voz! Esse é você, ali nas letras"... Trabalhando com Johnny, pude ver que ele faz coisas, inversões, porque ele sabe tocar guitarra. Will ainda não sabe tocar bem guitarra, ele apenas toca, ele é intuitivo e, para mim, o guitarrista mais lírico desde Mick Ronson – linhas de guitarra extremamente lindas – e ele consegue acertar como ninguém consegue... Observando Johnny, ele juntava coisas que soavam diferente... soavam como uma inversão que você não consegue entender, e isso é engenhoso demais pra mim... é como dizer "Eu sou bom, quero fazer uma seqüência de acordes que ninguém consegue", a menos que se tenha sete mãos... [Johnny] era um pouco solitário/recluso, eu pensava, em termos do que ele queria fazer, pois ele estava fazendo música eletrônica, e eu acho que ele percebeu que aquilo era apenas um projeto temporário.
RFB: Você prefere criar com um parceiro?
IM: Curto as duas coisas, mas adoro escrever sozinho também. Compus [The Idolness of Gods] apenas no violão, nada muito elaborado, mas tinha de criar acordes que nunca tinha feito antes, porque tinha a melodia previamente na cabeça – é como escrevo as músicas agora, geralmente penso numa melodia.. é mais crua, eu acho, mais como um garoto faria... é divertido: pra mim, o processo de composição se torna mais ingênuo de certa forma, à medida que envelheço.
RFB: Há muito mais o que fazer depois de trinta anos no showbizz?
IM: Apenas fazer músicas. É como dizer a um pedreiro: "Você planeja construir mais merdas de casas?" Cada casa é diferente, e cada música é diferente. É a expressão de mim mesmo, posso até parar de falar, sabe? Cinco pessoas na minha vida me disseram que elas não se mataram, após terem ouvido "Nothing Lasts Forever". Escrever uma outra desse tipo e salvar mais cinco vidas, essa é a minha ambição... coisa grande.
Depois de mais de 30 anos com os Bunnymen e onze álbuns, Mac não mostra nenhum indício de se aposentar. O que ele diz faz muito sentido. Ele é uma daquelas pessoas cujas observações parecem tão óbvias, ainda que ninguém mais veja o que ele faz até que ouçam suas músicas. Certamente, Ian me fez pensar em como conduzo minhas entrevistas. Ele tem tanto conhecimento sobre a indústria da música, que é um prazer ouvi-lo refletir sobre jornalismo, turnê, gravação, qualquer coisa – até mesmo política. E se ele está evitando que as pessoas cometam suicídio através de suas músicas, Ian McCulloch, junto com os Bunnymen, deve estar fazendo algo muito especial mesmo.
**
Nota Complementar por Mr Lips.
Mac fala na entrevista que as fitas das gravações com Johnny Maar estão arquivadas. Mas dessas sessões sairam em single a música "Top of The World" tema da seleção ingelsa para a copa de 1998 e algumas faixas do disco Burned do Electrafixion são frutos dessa parceria. Existe ainda a "lenda" de que as fitas masters foram perdidas/roubadas.
domingo, 22 de novembro de 2009
Entrevista com Ian McCulloch
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Mrlips
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domingo, 15 de junho de 2008
IAN MCCULLOCH Confissões do Homem Coelho
O nome Echo & The Bunnymen é facilmente reconhecível. O mesmo já não se pode dizer do de Ian McCulloch, o homem que foi, e continua a ser, o carismático líder dos coelhos de Liverpool. McCulloch está de regresso com “Slideling”, o seu terceiro álbum a solo.
Em 1988, dez anos depois da formação dos Echo & The Bunnymen, Ian MacCulloch decide desfazer a banda. A razão? O seu descontentamento com o rumo que as coisas no seio da banda, devido a problemas diversos, estavam a tomar. Os restantes elementos dos Bunnymen decidem continuar com a banda, à revelia de Ian. Este abraça uma carreira a solo, da qual resultam os álbuns “Candleland” e “Mysterio”. Mais tarde, feitas as pazes com Will Sergeant (o guitarrista e a outra metade criativa dos Bunnymen), embarcam os dois numa nova aventura de nome Electrafixion. Não muito tempo depois, Ian e Will reformaram os Echo & The Bunnymen.
No ano em que se comemora o 25º aniversário dos Echo & The Bunnymen, Ian McCulloch edita “Slideling”, o seu prometido terceiro álbum a solo, que conta com a participação de Chris Martin, dos Coldplay, como convidado. “Slideling” é um disco recheado de excelentes canções, que falam de experiências pessoais em forma de páginas de um diário. “Slideling” é, segundo o próprio McCulloch, o seu melhor disco deste século. Afinal os dois anteriores foram “editados o século passado”. Bom humor e falta de modéstia são duas componentes chave de qualquer conversa com Ian McCulloch.
Começou com uma carreira a solo, depois de, devido às coisas estarem a correr mal com a banda, ter desfeito os Echo & The Bunnymen. Assim sendo, como justifica o novo disco a solo, numa altura em que tudo corre bem com os Bunnymen?
Esta é uma das questões que me é colocada várias vezes. A resposta é simples: escrevo muitas canções e existo para além dos Echo &The Bunnymen. Provavelmente também porque os Echo ainda existem e porque eu tive algum tempo para fazer este disco. É como comer uma comida diferente durante algum tempo. Como acho que não sou apenas uma das metades dos Bunnymen, foi algo que realmente quis fazer. Os temas deste disco foram escritos em casa e são mais pessoais. As letras são mais sobre mim do que sobre o facto de pertencer a um grupo. Gostava bastante dessas canções e quis ver o resultado prático da minha visão sobre cada tema. Quis que soasse às pessoas da mesma maneira que soava na minha cabeça. Este disco acabou por demorar um pouco mais a ser gravado porque eu tenho estado bastante ocupado com os Bunnymen, na promoção e nas digressões do “Flowers”. Só começamos a gravar em Outubro de 2002. Para além disso, eu tinha um contrato com a Jeepster, mas como eles estão com problemas tive que procurar outra editora. Foi pena, porque, na altura em que comecei a procurar uma editora, havia mais pessoas interessadas no meu disco a solo. No dia em que me encontrei com a pessoa que dirige a Jeepster, embebedámo-nos ao jantar, e, sem que eu o mencionasse, ele mencionou o “Transformer”, do Lou Reed, e o “Hunky Dory”, do David Bowie, que são as referências principais do meu trabalho a solo. Disse logo ao meu manager: “tens uma caneta? É que eu quero assinar já aqui o contrato”. E foi só por causa disso, pelas referências que ele apontou. Felizmente a Cooking Vinyl gostou dos temas o suficiente para editar o disco.
A divisão de temas entre os Bunnymen e os seus discos a solo assenta exclusivamente no facto de as canções serem pessoais ou genéricas?
Sim. Mas também porque acho que o próximo disco dos Bunnymen vai ser mais pesado que o habitual, mais roqueiro. Algumas destas canções já existem há uns anos e não queria deixa-las na prateleira. As minhas canções são como as crianças, gosto que elas cresçam. Mas temas como “High Wires”, “Stake Your Claim” e mesmo o “Sliding” poderiam fazer parte de um qualquer disco dos Bunnymen.
Nota-se que “Slideling” é um disco um pouco mais alegre do que os anteriores. Isso é consequência das coisas estarem estáveis com os Bunnymen? Ou simplesmente sente-se agora mais à vontade a compor sozinho?
Concordo. O facto é que cheguei a um ponto em que não posso interiorizar todos os medos das pessoas. Para mim existem mais coisas do que um tipo num casaco negro. Durante algum tempo, quis ser mais o Ian McCulloch do que apenas o Mac. Muitas das minhas canções são como páginas de um diário mas com uma melodia. Durante algum tempo quero que sejam as minhas histórias a ter vida para que, depois, me possa libertar para o trabalho com os Bunnymen. Não é uma coisa que se explique. Uma das razões por que me tornei músico foi para poder fazer as minhas próprias regras.
Disse, a certa altura, que este disco seria o “Transformer” do século XXI. Ainda sente isso?
Acho que é diferente. Acho que é o melhor disco que fiz a solo este século. (risos) Isso era também uma pista para os fãs, como que a dizer-lhes que não ia ser um disco à Velvet Underground, mas mais na linha do Lou Reed. Eu adoro, com a mesma intensidade, o “Transformer” e o primeiro álbum dos Velvet Underground. Por isso, era uma pista para os fãs não pensarem que seria mais próximo do meu trabalho nos Bunnymen. De qualquer maneira, o “Transformer” é um dos discos que me acompanha sempre, especialmente em estúdio. É uma excelente fonte de inspiração para fazer discos com canções diferentes.
Como foi o processo de selecção dos músicos que o acompanham neste disco?
O baixista é dos Bunnymen mas antes tocava nos Cast. Os outros músicos são de Liverpool. O pai do baterista pertenceu aos Herman’s Hermits, o que não deixa de ser curioso. Escolhi estas pessoas porque não queria recorrer em demasia aos músicos dos Bunnymen. Quis que houvesse alguma diferença na abordagem das canções e na maneira de tocar. A guitarra foi gravada pelo meu manager, porque assim não tive de lhe pagar. (risos) Ele é um bom guitarrista, mas estava com medo de gravar os temas porque achava que não ia estar à altura. No fim correu tudo bem.
Durante a promoção do último álbum dos Echo, dizia que “Slideling” ia ter como convidados: David Bowie, Leonard Cohen (com quem prometia um dueto em “Baby Hold On”) e os Fun Lovin Criminals. No final apenas os elementos dos Coldplay aparecem no disco...
Admito que atirei alguns nomes sem perguntar às pessoas mas as coisas também mudaram e eu preferi fazer uma coisa mais pessoal. Em relação ao “Baby Hold On”, vou gravar esse tema em dueto, mas com a Jane Birkin, para um single que só vai sair em França. Isto foi uma possibilidade que se está a tornar realidade e pensei que poderia ser uma boa ideia. De certa maneira cumpri a minha promessa, não foi? De qualquer modo eu tenho a melhor voz do mundo... Pelo menos a melhor voz do mundo para cantar as minhas canções. (risos)
Aliás, a participação dos elementos dos Coldplay tem sido um factor de grande atenção para o disco. Como é que surgiu essa amizade?
Há um ano, quando os Coldplay estavam a gravar em Liverpool, o Chris Martin recebeu uma caixa com discos dos Echo & The Bunnymen. Os nossos managers apresentaram-nos e démo-nos logo bem, principalmente quando ele começou a gabar-me o ego, e a dizer que os Echo eram a melhor banda do mundo. Foi simples... Os temas em que eles participaram - “Sliding” e “Arthur” -, eram os únicos que já estavam adiantados quando eles apareceram no estúdio. O Chris Martin pediu-me para lhe mostrar alguns temas e, como eu só tinha aqueles, acabou por cantar e tocar piano enquanto o Johnny [N.R. Jon Buckland, guitarrista dos Coldplay], tocou guitarra. Eu sabia que eles tinham gosto em participar no meu disco e fiquei contente com o facto de terem cumprido a promessa. Eu gosto da voz dele, gosto dos Coldplay e pensei que poderia atrair a atenção de alguns dos fãs dos Coldplay.
Mas, em 2001, quando falava da cena musical britânica, comparou o Chris Martin ao Gary Barlow dos Take That...
Eu disse isso? Bem, nesse caso retiro o que disse. (risos) Acho que o Chris Martin é o segundo melhor cantor do mundo. Talvez porque ele é um bom rapaz... Na altura não estava a falar da voz dele... Hoje em dia não penso que seja um “boy next door”, apenas um lunático. Mas um lunático natural, e não induzido pelo alcool ou algo assim. Um pouco estranho também, o que não deixa de ser bom... É isso que o faz diferente.
Como é que as suas filhas, que são da geração que idolatra os Coldplay, vêem o pai?
Elas ficaram contentes mas elas também não ligam muito esse tipo de coisas. Tem mais a haver com os amigos delas, que ficam impressionados quando descobrem que eu sou o pai delas. Acima de tudo quero que olhem para mim como um pai. Muitas vezes esse é um papel difícil de desempenhar porque estou muito tempo fora, em digressão.
Mudemos de assunto. Sei que tinha a ideia de editar um disco de versões, à imagem de “Pin Ups”, de David Bowie. Será esse o próximo passo na sua carreira a solo?
Bem, o Robbie Williams adiantou-se e estragou toda e qualquer ideia sobre esse assunto. (risos) A minha ideia era gravar algumas versões de Frank Sinatra, Leonard Cohen, Jacques Brel, Stooges, Velvet Underground e David Bowie. Há uma diferença muito grande entre fazer discos de originais - seja a solo ou com os Bunnymen - e gravar discos de versões. Quando estamos em estúdio a gravar as nossas canções sentimos que estamos a fazer algo com grande significado pessoal. Apesar de tocarmos e gravarmos algumas versões, eu vejo isso como uma forma de exibicionismo, do tipo: “olhem para mim, eu consigo cantar Frank Sinatra”. Penso que não preciso de fazer isso. À medida que vou envelhecendo, tenho uma maior necessidade de gravar as minhas canções em vez das dos outros. Talvez quando tiver sessenta anos volte a essa ideia. (risos) Entretanto, nos meus concertos, os encores vão ser preenchidos só com versões de Lou Reed e dos Velvet Underground: “Sweet Jane”, “Pale Blue Eyes”, “Walk On The Wild Side”, “What Goes On”, etc.
Como é que costuma abordar os temas que vai versionar. Tenta ser fiel ao original ou tenta acrescentar algo seu e fazer essas canções soar como se fossem os seus próprios temas?
Começa-se por se tentar ser fiel. Depois, damo-nos conta que a única razão pela qual queremos fazer essa versão é porque o tema é tão bom, e estamos tão apaixonados pela canção que não podemos ser fiéis, pois já estamos a cometer uma infidelidade por estar a mexer com ele. Eu fiz uma versão de “Hey, That’s No Way To Say Goodbye”, do Leonard Cohen [N.R. incluída na compilação de tributo a Cohen “I’m Your Fan”], e estou a ser-lhe infiel porque não consigo fazer com que a minha versão chegue, sequer, aos calcanhares do original.
O ano passado, os Echo & The Bunnymen receberam o prémio da revista Q, na categoria de “Inspiração”. Como é que se sente quando outras bandas que sentem inspiradas pelo seu trabalho e o afirmam em público?
Acima de tudo, eu devo esse prémio mais ao Chris Martin e aos Coldplay do que propriamente à revista Q. Nós recebemos esse prémio em Novembro de 2002 e, a partir daí, os jornalistas da Q começaram a ter vontade de falar comigo. Agora, durante a promoção do meu disco a solo, o editor da Q disse à minha editora que “o Mac não é muito Q neste momento”. É curioso como quatro meses conseguem mudar as coisas. A imprensa britânica nunca “deixou” que fossemos uma influência para quem quer que seja. É por isso que o apoio dos Coldplay é bem-vindo para contrariar essa ideia. Eles até gravaram uma versão do “Lips Like Sugar” para acompanhar a edição do novo single.
Em Novembro os Bunnymen fazem 25 anos. O que estão a planear para a comemoração?
A Warner vai remasterizar os primeiro cinco discos pela primeira vez e vai haver uma grande campanha de promoção. Vamos fazer os festivais de verão e, depois, no Outono, vamos fazer uma digressão pelos Estados Unidos, Brasil e Europa. Também devemos fazer algo especial em Londres e Liverpool, para comemorar o nosso 25º aniversário. No final ano começamos a escrever e a gravar o novo álbum. Queremos que seja um dos nossos melhores discos e que as pessoas se apaixonem pelos novos temas da mesma maneira que se apaixonaram pelo “The Cutter” ou o pelo “The Killing Moon”.
E não pretendem, finalmente, conquistar de vez a América? Porque é que a maioria das bandas inglesas têm o sonho de conquistar a América?
Porque as editoras dizem às bandas que é óptimo aparecer na capa do New Musical Express mas que na América é onde está o dinheiro. Connosco o que aconteceu foi que depois do “Porcupine”, tínhamos um disco para fazer, estávamos cada vez maiores na América e tocávamos lá em locais com capacidade para 5000 pessoas na maioria das cidades. Por isso o passo seguinte seria passar para os estádios ou coisa parecida. A editora estava muito contente, e nós tínhamos, e ainda temos os fãs mais leais divididos entre a Inglaterra e a América. O que a editora não percebeu é que os nossos fãs americanos eram exactamente iguais aos ingleses. Ou seja, gente que odiava todo o estilo americano, ou a sua falta de estilo. O que nós fizemos no auge desse sucesso americano foi voltar para a Europa e fazer o “Ocean Rain” em Paris. Lembro-me que a editora disse: “bolas, perdemo-los de novo. Perdemo-los para a Europa.” Nos anos 80 havia uma onda muito política, assistia-se à queda do punk e existiam todas essas bandas que eram de esquerda e trabalhistas. Mas toda a gente queria ir para a América. Havia uma grande onda quando se ia para a América, mas era uma coisa efémera. Nova Iorque era fantástica porque, de repente, te injectava uma adrenalina súbita. Quando se via a arquitectura, havia um vibração diferente do habitual. Nós éramos um grupo europeu e enquanto toda a gente estava numa de rock de estádio e de chapéus de cowboy, fomos para Paris e arranjámos uma orquestra francesa para tocar connosco. Nós queríamos que o disco soasse belo e épico ao mesmo tempo. Houve uma crítica à reedição do “Ocean Rain”, em Hong Kong, que apontou o óbvio: que, mesmo em 1984, “Ocean Rain” não era parecido com nada que já tivesse sido feito. Éramos apenas nós a fazer rock’n’roll. O “Ocean Rain” ainda está 30 anos à frente do seu tempo.
Enquanto anda a promover o seu disco a solo o que se passa com o Will Sergeant?
Está em casa a preparar o novo álbum dos Glide. É um projecto de música atmosférica mas com algum groove. Para além disso ele não faz mais nada. A não ser cozer o seu próprio pão. (risos)
Hugo Moutinho
(Mondo Bizarre # 15)
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quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Entrevista de rua
Como disse um cara: parece que o Ian estava passando e a repórter "catou" ele para algumas perguntas.
O jornalista se pergunta - será frio ou timidez?...
Polêmicas à parte o Homem-Coelho dá umas boas dicas do que vem pela frente :)
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quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
Weeping Willows w Ian McCulloch live in Stockholm
Summer Wind
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Weeping Willows w Ian McCulloch live live at China Teatern - Stockholm
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domingo, 23 de dezembro de 2007
Feliz Natal a todos!!!
Ian McCulloch - 9 Tracks released 1989 Baixe aqui">
Proud To Fall (Long Night's Mix)
Faith & Healing (The Carpenter's Son Mix)
Toad
Fear Of The Known
Pots Of Gold
The Dead End
Everything Is Real
The Circle Game
September
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sábado, 12 de maio de 2007
Ian McCulloch - Live At The Union Chapel, London 2003
DAUMLOUDI
01 - Playground and City Parks
02 - Love In Veins
03 - Flickering Wall
04 - Baby Hold On
05 - Lover Lover Lover
06 - Sliding
07 - Candleland
08 - Arthur
09 - Seasons
10 - Nothing Lasts Forever
11 - High Wires
12 - Proud To Fall
13 - Kansas
14 - Killing Moon (Aborted)
15 - Stake Your Claim
16 - Sweet Jane (Velvet Underground)
17 - Waiting For My Man (Velvet Underground)
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terça-feira, 17 de abril de 2007
quarta-feira, 28 de março de 2007
Ian McCulloch - Live At The Union Chapel, London, England, 8th May 2003
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01 - Playground and City Parks
02 - Love In Veins
03 - Flickering Wall
04 - Baby Hold On
05 - Lover Lover Lover
06 - Sliding
07 - Candleland
08 - Arthur
09 - Seasons
10 - Nothing Lasts Forever
11 - High Wires
12 - Proud To Fall
13 - Kansas
14 - Killing Moon (Aborted)
15 - Stake Your Claim
16 - Sweet Jane (Velvet Underground)
17 - Waiting For My Man (Velvet Underground)
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domingo, 25 de março de 2007
Vamos preparar o bolso moçada!!!
Candleland and Mysterio to be re-released in April 2007
Korova/WEA will re-release Ian McCulloch's first 2 solo albums in one convenient package with bonus tracks added.
Release Date: April 2, 2007
Number of Discs: 2
Format: Original recording remastered, Import
Label: Wea/Korova
Product Description:
Expanded Versions of Ian Mcculloch's Two Solo Albums from 1989 and 1992 with Additional Songs, Acoustic Versions, Mixes and Live Tracks.
1. Flickering Wall
2. White Hotel
3. Proud To Fall
4. Cape
5. Candleland
6. Horse's Head
7. Faith And Healing
8. I Know You Well
9. In Bloom
10. Start Again
11. Pots Of Gold
12. Dead End
13. Toad
14. Fear Of The Known
15. Rocket Ship
16. Candleland (The Second Coming)
17. World Is Flat
18. Magical World
19. Close Your Eyes
20. Dug For Love
21. Honeydrip
22. Damnation
23. Lover, Lover, Lover
24. Webbed
25. Pomegranate
26. Vibor Blue
27. Heaven’s Gate
28. In My Head
29. White Hotel (Acoustic Version)
30. White Hotel (Acoustic Version)
31. Lover, Lover, Lover (Indian Dawn Remix)
32. Vibor Blue (Acoustic Version)
33. Pomegranate (Live)
34. Damnation (Live)
Burned by Electrafixion to be re-released as double CD
Audio CD (April 2, 2007)
Number of Discs: 2
Format: Original recording remastered, Import
Label: Wea/Korova
Product Description
Formed in 1994 by Two Former Members of Echo and the Bunnymen : Ian Mcculloch and Will Sergeant. Cd1 Includes their Album plus Debut 1994 EP 'zephyr' and the Utah Saints Mix of 'never'. Cd2 Includes Nearly all their B Sides from the Many Multi Format Singles They Released and the Nine Tracks from their Shepherds Bush Empire Show of October 22nd 1995.
1. Feel My Pulse
2. Sister Pain
3. Lowdown
4. Timebomb
5. Zephyr
6. Never
7. Too Far Gone
8. Mirrorball
9. Whose Been Sleeping In My Head?
10. Hit By Something
11. Bed Of Nails
12. Zephyr
13. Burned
14. Mirrorball
15. Rain On Me
16. Never (Utah Saints Blizzard On Mix)
17. Holy Grail
18. Land Of The Dying Sun
19. Razor’S Edge
20. Not Of This World
21. Subway Train
22. Work It On Out
23. Work It On Out
24. Feel My Pulse (Live)
25. Sister Pain (Live)
26. Lowdown (Live)
27. Never (Live)
28. Holy Grail (Live)
29. To Far Gone (Live)
30. Burned (Live)
31. Loose (Live)
Fonte:http://www.villiersterrace.com
Nota: Ja esperava algo do genero quando soube da volta dos coelhomens aos braços da WEA. Será uma boa oportuninidade para os fãs mais novos completarem sua coleçao,desde que os cds cheguem ao mercado nacional com preços razoaveis e não via importadoras, que mesmo com o dolar num valor razoável, cobram horrores pelos disquinhos.
Quanto a seleçao de faixas nenhuma novidade gritante pra quem já vasculhou pelos soulseeks da vida.
Mas como somos fãs iremos comprar na medida do possivel e ver se o encarte vale o investimento.
Postado por
Mrlips
às
21:15
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